Capítulo 7 [Parte 2] - Estudo sobre Amor e outros venenos letais

Olá para você que nos acompanha!
A festa do capítulo sete é de onde tiramos as roupas que os personagens estão usando nas ilustrações feitas pelo Dante! O que você achou ao descobrir que as fantasias de Morena e Ivan estavam representando uma deusa (Manat) e seu marido (Hubat)? Caiu como uma luva, né? Aliás, vou deixar aqui as referências das roupas dos dois, porque são LINDAS: vestido da Morena e khalat do Ivan.
Só a fantasia de Aleksey ainda não foi descrita completamente, né… Mas aceito chutes! E falando em chutes, você também gostaria de dar alguns bem dados naquele casal que parece ter vindo diretamente de Chernobil de tão tóxicos que são? A gente pode só falar que nossos pés escorregaram na fuça deles, tenho certeza que vão acreditar na nossa inocência. Com sorte, a pessoa misteriosa poderia ser nossa testemunha…
Aliás, QUEM É A PESSOA MISTERIOSA???
Não acho que seja Morena, porque ela tem dado o espaço possível e impossível pro Aleksey, principalmente depois do jantar do primeiro dia. Ivan? Talvez, mas está muito cedo desde a conversa deles e a não conversa de Ivan com Morena. Nadya seria uma possibilidade? Com certeza, principalmente porque ela aparecer ajudando Aleksey deixaria o coitado mais cagadinho da cabeça, mas ela realmente se daria ao trabalho? Fica o questionamento. Tem a Veronika também, que é um anjo de pessoa, só que ela parece estar tão entretida com a esposa… E a última possibilidade é o Laszlo, ele PODE ter voltado, mas, sejamos realistes, Laszlo já interrompeu alguma situação que não envolva empatar foda que a gente QUER que aconteça???
No fim, nem eu e você temos ideia de quem pode ter aparecido, são muitas possibilidades! Para descobrir de verdade, só lendo a segunda parte do capítulo sete de…
Estudo sobre Amor e outros venenos letais!
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Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio. Algumas cenas deste capítulo abordam consentimento dúbio.
Você pode saber mais detalhes sobre termos, apelidos e nacionalidades ficcionais, e outros personagens através do Guia de Leitura.
— Eu sou.
A voz soou próxima o suficiente para causar arrepios em Aleksey e ele sabia quem era antes mesmo de levantar o rosto. Inessa e Valentin se viraram ao mesmo tempo, tirando as mãos de Aleksey quase que imediatamente e se afastando, arregalando os olhos ao ver quem falara, esbarrando na parede de forma atrapalhada ao darem passos para trás.
Morena os encarava como uma deusa julgando meros mortais, os lábios vermelhos apertados num misto de tédio e desprezo, como se os dois não passassem de uma inconveniência. A tiara a fazia parecer maior que o sol, como se a própria deusa da guerra que estava representando tivesse tomado seu lugar.
— Me perdoem a impaciência, mas ninguém me deixa esperando — disse Morena para o casal, estendendo uma mão que Aleksey aceitou, se acomodando ao lado dela rapidamente. Ela passou uma mão pela cintura dele de forma possessiva, cobrindo-o parcialmente com a capa, como se ela pudesse protegê-lo do mundo inteiro daquela forma. — E o Príncipe Barabash me prometeu a terceira valsa da noite. Espero que entendam.
— Mas é claro, vossa alteza sereníssima — disse Inessa com uma pequena reverência e Valentim a imitou de forma desajeitada, os dois visivelmente trêmulos.
Aleksey quase deu uma gargalhada com o medo e a insegurança que subitamente haviam aparecido em suas feições. No momento em que viram Morena, todo o ar ameaçador desaparecera. O alívio fez seus olhos arderem, mas as palavras de Ivan ecoaram novamente em sua mente.
Você não pode viver sozinho.
— É vossa alteza extraordinária — corrigiu Morena, em um lembrete de que além de Princesa de Mièdz, também era uma alquimista da maior graduação, e se virou para Aleksey, o olhar se suavizando por um instante antes de perguntar teatralmente: — Aleksey, sãos esses os tais Zuzik? Daquele okrug que fica no meio do nada em Seleni? Perto do rio Temno?
— Zuzkin — falou Inessa, e Morena olhou para ela, o grupo ficando em silêncio por tempo o suficiente para Inessa abrir o leque que carregava e se encolher atrás dele.
— Exatamente, Princesa — adicionou Aleksey depois de um instante longo o bastante para o olhar de desprezo de Morena se assentar sobre o casal. — Eles entraram com requerimento para contratar alguns engenheiros de Mièdz para reformar a casa deles no outono.
Não haviam palavras para descrever a satisfação que Alesksey sentiu ao ver o casal ficar pálido, Inessa quase tão branca quanto as penas da sua fantasia. Havia alguma sabedoria na máxima de Morena de que poder comandava respeito e parte do poder das princesas de Mièdz vinha do controle rigoroso dos projetos de engenharia e alquimia que eram repassados para apreciação conjunta do Sovet, o conselho de alquimistas de toda Argon, e também da Montaz, a assembleia de tomada de Mièdz. Já que a higiene básica se tornara moda na Corte, as solicitações de melhorias em casas da nobreza se multiplicaram e com as recusas inevitáveis, a fama que Morena possuía de ser implacável só crescera — e ela nunca movera um dedo para desmentir ou explicar a motivação por trás de suas decisões. Agora Aleksey entendia exatamente o motivo: era delicioso ver aquelas pessoas humilhadas, com os rabos entre as pernas, obrigadas a engolir o orgulho pelo menos uma vez na vida para conseguir o que queriam.
— Ah, é claro. Me lembro agora, cheguei a ler a proposta. Esse não foi o okrug que perdeu toda a colheita nas chuvas da virada do ano? — Ela franziu a testa e Aleksey assentiu, escondendo a surpresa por ela saber de uma informação do seu próprio território quando eles mal estavam se falando. — Ah, entendo. Nossa reunião é em duas semanas, não?
— S-Sim, vossa alteza extraordinária — balbuciou Inessa, olhando para Aleksey com os olhos arregalados, sem entender direito o que estava acontecendo. Dava para perceber que ela não fazia ideia do que estava acontecendo nem por que desagradara a Morena.
— Interessante. — Morena tinha um tom gélido e olhou para Aleksey mais uma vez antes de dizer para o casal: — Bem, espero que aprendam a ouvir um “não” até lá.
Assim, ela conduziu Aleksey para longe com uma mão apoiada nas costas dele enquanto o guiava para o local onde os demais casais dançavam. Aleksey olhou por cima do ombro algumas vezes para verificar se não estavam sendo seguidos. O coração parecia prestes a explodir e ele tinha certeza de que estava tremendo, a gratidão imensa por ter sido resgatado por Morena se misturando com a vergonha e a culpa, sua companheira costumeira.
Não sabia o que diria se Morena perguntasse a respeito dos Zuzkin e só de imaginar o que ela estaria pensando dele, tinha vontade de desaparecer. Provavelmente estava julgando Aleksey por aquilo, pela facilidade com que se deixara encurralar, por só ter finalmente reagido quando ela se aproximara, por sequer ter protestado para manter sua determinação de não se aproximar dela.
Morena o tocou suavemente no cotovelo, fazendo-o olhar para ela quando chegaram perto de onde os outros casais dançavam, o mais perto da porta possível, e fez um sinal discreto com a cabeça para que ele conduzisse a dança, como sempre faziam antes. Ele a segurou pela cintura quando os primeiros acordes da música seguinte ressoaram, ela apoiou a mão contra a dele delicadamente e o toque suave das duas peles foi o suficiente para incendiá-lo da cabeça aos pés. Os dois se moveram por instinto, seguindo o ritmo da música e os passos que estavam gravados em suas mentes, Morena tensa em seus braços, olhando para a frente, para os ombros de Aleksey, preocupada em manter a maior distância possível entre os dois parceiros de dança.
Era a primeira vez que dançavam desde aquela maldita prova de titulação de Alquimista Extraordinária em que Morena se graduara e o jeito formal e preocupado de Morena era um lembrete doloroso de tudo que acontecera desde então. Aleksey queria vê-la sorrindo, com o corpo grudado com o seu, a ponto de chamar atenção de todos os fofoqueiros da Corte; queria sentir o calor que ela irradiava contra si, queria afundar o rosto nos cabelos dela para sentir seu cheiro, queria que tudo voltasse a ser como era antes, quando tudo era muito simples e fácil.
— Morena — ele a chamou baixinho, incapaz de se conter, e ela levantou o olhar novamente, a mão no ombro segurando o tecido de seu colete com força, os lábios apertados.
Aleksey a fez girar e a puxou mais para perto, abraçando-a pela cintura, e ela esboçou um fantasma de sorriso, a covinha aparecendo na bochecha. Morena subiu a mão que segundos atrás estava fincada no colete dele e então deslizou os dedos em seu cabelo e, por um instante, todo o salão de baile pareceu desaparecer, o sangue rugindo nos ouvidos de Aleksey.
Aquilo só podia ser um sonho, porque depois de tudo o que fizera, depois de fazê-la chorar mais de uma vez, a última coisa que merecia é que ela aparecesse para ajudá-lo, que ela o levasse para dançar e, com um arremedo de sorriso, o fizesse esquecer do mundo inteiro. Queria poder ficar naquele momento para sempre, mas a música era curta demais, a dança rápida demais, e quando Morena se afastou, o corpo de Aleksey pareceu tremer por inteiro, como se protestasse por ter sido separado do dela.
Ele não estava pronto para voltar a ficar sozinho. Ele não queria ficar sozinho, não só naquele baile, mas em todos os aspectos. Sabia que se deixasse Morena ir, era exatamente o que aconteceria, então temeu que ela lhe desse as costas e voltasse para onde Ivan a esperava, seja lá onde fosse, deixando-o perdido novamente naquele oceano infindável de pessoas onde a solidão era sua única acompanhante.
Aquele momento de suspensão angustiante, quando a música parou, pareceu durar horas, e também só um segundo.
Em vez de se afastar, Morena entrelaçou o braço no dele e o conduziu para o lado de fora como se os dois estivessem saindo para se refrescar, guiando-o até encontrar um banco em uma alcova mais distante de onde o baile seguia a todo vapor. Morena se acomodou na pedra, arrumando a capa para que não arrastasse no chão, e levantou o olhar para Aleksey, segurando as mãos com força em seu colo, o peito que subia e descia rapidamente o único indicativo de seu nervosismo.
O tempo pareceu desacelerar enquanto se encaravam em silêncio, cada segundo pesando mais em Aleksey. A última vez que estiveram só os dois daquela forma havia sido o pior dia da vida dele e um dia péssimo para Morena. Aquele momento parecia um espelho daquela noite de primavera, tantos meses antes, Morena o ajudando mais uma vez e ele, uma pedra no seu caminho, sempre a desviando daquilo que mais importava. Se ela aproveitasse aquele momento para xingá-lo, para brigar com ele, para dizer que Ivan estava errado e ela nunca mais o queria ver na sua frente, ele entenderia perfeitamente.
— Me desculpa — disse ela por fim, em um tom hesitante, fraco, completamente diferente do que usara com os Zuzkin, e Aleksey arregalou os olhos, confuso. — Eu sei que não deveria me meter na sua vida, mas Ivan insistiu e você parecia tão assustado que eu…
Morena balançou a cabeça e desviou o olhar, arrumando a capa no banco mais uma vez, agitada. Aleksey sentiu uma dor no peito ao vê-la daquele jeito, parecendo tão desolada. Nada do que ela dizia fazia sentido, nem o que ela parecia estar sentindo. Ela deveria estar furiosa com ele, não sentindo como se tivesse ultrapassado algum limite. A única pessoa ali que ultrapassara todos os limites era Aleksey. Ainda assim, ela continuou se desculpando:
— Eu sei que você merece uma chance de ser feliz longe da gente, e a gente só atrapalha. — Ela brincou com um fiapo do bordado do vestido, ainda sem olhar para ele. — Mas eu não consigo não me preocupar, Aleksey. Não dá para eu puxar uma alavanca e parar de pensar em você. Eu não consigo não procurar por você em todo canto que eu vou, não consigo parar de pensar em como você está, não consigo parar de sentir sua falta.
— Morena…
— Posso só terminar de falar antes? Eu não sei se vou ter coragem se parar agora — confessou ela sem levantar o rosto e Aleksey fez um som de concordância, completamente desnorteado. — Eu passei bastante tempo com Laszlo no dia da caçada e vi como ele é gentil e bom, e como ele fica feliz com você. Ele gosta de você de verdade, pelo que você é, e você gosta dele. Dá para ver de longe como ele faz você feliz. Não quero atrapalhar nada disso, e agora percebo que talvez a gente tenha feito isso por muito tempo, mantendo você por perto como se fosse um satélite, sem nunca fazer parte de algo, mas impedindo você de seguir a sua vida.
Ela tomou fôlego antes de continuar, a voz ficando embargada.
— Eu amo de uma forma que nem todo mundo é capaz de entender e estou acostumada com Ivan que me compreende, mas me esqueço que nem todo mundo… — Morena balançou a cabeça, sem seguir por aquele caminho, mas deixando Aleksey intrigado. O que ela queria dizer com aquela declaração? — Só quero dizer que eu entendo e não julgo você. Mas se tem uma coisa que me arrependo todos os dias desde a última vez que conversamos foi de não ter feito você compreender o quanto é importante para nós dois. O quanto você faz falta, o quanto você é parte da nossa vida. Era, pelo menos. — Ela mordiscou o lábio inferior novamente e finalmente, finalmente ergueu o olhar para ele. Os dois se encararam e Morena pareceu avaliá-lo por um instante antes de prosseguir: — Mas você está feliz agora, mais feliz do que quando nós éramos amigos, e no final de tudo, é isso que importa para mim. Eu quero ver você feliz e sorrindo, Aleksey, e se a solução para isso é ficar longe de Ivan e de mim, estou disposta a fazer o que for possível para que isso aconteça. Mas precisamos ajustar tudo para minimizar nossos contatos, coordenar nossos horários e nossas presenças para que isso dê certo, porque eu não sei se sou forte o suficiente para resistir me aproximar de você caso estejamos no mesmo lugar. Posso até pedir para Anya organizar tudo e ficar em contato direto com você, dá para nos organizarmos para que o que aconteceu hoje não aconteça novamente e você possa seguir como preferir e ser feliz.
A atuação de Aleksey estava boa demais se ela, entre todas as pessoas, acreditava piamente que ele estava feliz. Sentiu um bolo na garganta com o pensamento de que não sabia mais nada da vida dela e ela não sabia mais nada da vida dele, que eram praticamente como estranhos agora, que que não conseguia nem perceber o que ele sentia de verdade. Por tanto tempo, Morena fora seu porto seguro, a única pessoa que sabia que não o julgaria ou que o aceitaria por completo, com todos os defeitos e todas as inseguranças, que sempre o veria por quem ele realmente era, e perceber que aquilo mudara era como como perder um pedaço de si. Quem era ele, se Morena não o reconhecia mais?
— Morena… — começou ele mais uma vez e passou as costas da mão nos olhos para tentar aliviar a ardência que sentia. — Porra, Morena, é isso que você acha? Que eu estou feliz?
Ela levantou o olhar, a tiara refletindo a luz da lua. Os olhos tinham um brilho estranho e ele se lembrou das lágrimas que ela derramara da última vez que conversaram.
— E não é isso?
— Eu nunca me senti tão miserável quanto nos últimos meses. — A voz saiu alguns tons mais aguda, e a sinceridade brutal fez algo estourar dentro dele, como se falar em voz alta fosse a única coisa que faltasse para ele perder completamente o controle.
O nó na garganta aumentou ainda mais e ele se desesperou, sem saber como atravessar aquela sensação. Morena esticou a mão para ele, aturdida, e antes que pudesse pensar duas vezes, Aleksey se ajoelhou aos pés dela, os dedos trêmulos segurando a mão que ela oferecera. Encostou a cabeça no joelho dela, sabendo que se olhasse para ela e falasse o que estava sentindo, as lágrimas seriam inevitáveis e ele estava farto de chorar.
— Nunca me senti tão sozinho quanto nos últimos meses. Tão… deslocado. — Ele sentiu a outra mão de Morena no cabelo, tão gentil, tão compreensiva. Ele fechou os olhos com força. — Eu gosto de Laszlo, mas ele não é você. Ele não é Ivan. Ele não entende… Ele não sabe… E eu tenho medo…
— Eu sei — sussurrou ela e deslizou a mão por sua barba até o queixo, levantando seu rosto. Sentia tanta falta daquilo, de não precisar terminar uma frase para que ela compreendesse, de como ela nunca o julgava, de como ela sempre o confortava. — Eu sei. Eu também tenho medo, o tempo todo. Cada minuto que eu passo no inferno que é essa Corte, eu me sinto mais sozinha. Eu não tenho ideia do que eu estou fazendo metade do tempo, não sei quem achou que seria uma boa ideia entregar um oblast inteiro na minha mão.
Aleksey riu, abaixando a cabeça para esconder o rosto no colo dela.
— E eu? Que sou o maior desastre que já aconteceu nesse país no último século? — disse ele com humor.
— Eu achei que passaríamos por isso juntos — disse Morena baixinho. — Mas pelo menos eu tenho Ivan quando volto para casa. Eu sei que não estou sozinha, porque ele está lá, me esperando, pronto para me ouvir reclamar, rir quando eu passo vergonha e me consolar quando eu preciso. Não consigo nem imaginar como seria se eu não tivesse ninguém.
— Eu também achei que a gente passaria por isso junto — murmurou Aleksey e ela segurou a mão dele com mais força.
Ficaram em silêncio por alguns instantes. Ele não fazia ideia do que ela estava pensando e achou que ela começaria uma bronca ou que falaria algo como o que Ivan lhe dissera, jogando na sua cara a besteira que ele fizera. Que o lembraria de que nenhum dos dois precisava se sentir dessa forma, se ele não tivesse agido por reflexo, em uma mistura de medo e culpa, e se afastado, achando que aquilo mudaria as circunstâncias, ainda influenciado pela quantidade de magia que usara. O mundo fora da Azote era algo completamente diferente e havia milhares de formas de Yakov feri-lo que não envolviam as pessoas que ele amava. Se fosse para evitar tudo que o tio poderia usar contra ele, era mais fácil dar cabo da própria vida e solucionar o problema de todo mundo de uma vez.
— Eu só quero saber…— começou Morena, um dedo acariciando as costas da sua mão distraidamente. — Valeu a pena? Isso tudo?
Aleksey se demorou um instante na pergunta, no que ela implicava.
— Eu alcancei meu objetivo, não alcancei? Yakov não fez mais nada contra vocês, vocês não vão mais sofrer pelas mãos dele — disse Aleksey e ela o puxou de volta para sentar ao seu lado, forçando-o a encontrar os olhos dela, no mesmo patamar.
— E esses quase dois anos foram o quê?
Aleksey abriu e fechou a boca algumas vezes e tentou desviar o olhar, mas ela não o deixou, levando uma mão ao queixo dele e segurando-o ali gentilmente, mas com firmeza.
— Eu coloco cada segundo na conta dele, cada vez que eu chorei, cada vez que você se sentiu sozinho — disse Morena, passando uma mão no cabelo novamente com ternura.— Cada noite que Ivan ficou acordado se perguntando se você estava precisando de ajuda, questionando se seria na próxima semana que você viria conversar com a gente. Os dois dias de Reis em que Irina separou uma cadeira achando que você viria, todas as vezes que Tamara não sabia o que vestir e você não estava lá para ajudar. E se depender de mim, eu o faria pagar muito caro por cada uma dessas coisas que tirou de você. Que tirou da gente.
Como Aleksey havia sido tolo. Era a única coisa que conseguia discernir dos sentimentos complexos que possuía, do aperto no peito que sentia ao imaginar a mãe de Ivan o esperando com uma mesa farta e um presente, pronta para fazer tudo que a mãe dele nunca fizera; com a ideia de Tamara sem ter com quem conversar sobre as meninas de quem ela gostava, sem ter alguém para desabafar sobre as desilusões amorosas e confidenciar coisas que ela nunca teria coragem de falar para a irmã, que era como uma mãe para ela, ou para Ivan, que não compreenderia. Aleksey nunca se sentira tão bem, tão confortável, tão em casa quanto no tempo em que passara na casa de Morena em Mièdz, mas fora tolo o suficiente para achar que não fazia diferença na vida de ninguém e que não sentiriam sua falta.
— Masha…
— Então eu pergunto, Lyosha, valeu a pena?
— Não. — Ele sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto e tentou enxugá-las. — Não valeu. E agora as coisas nunca vão voltar a ser como eram, mesmo se a gente quiser.
— Então vamos descobrir como vão ser. — Ela se aproximou, ficando tão perto que Aleksey conseguia sentir o calor que ela irradiava, fazendo-o arrepiar por inteiro. — Nada precisa ficar como está hoje. Se você quiser que a gente só tenha uma relação de trabalho, eu não me importo. Eu só não quero que você fique sozinho.
Não importa o jeito. As palavras de Ivan pareciam ecoar na mente dele e Aleksey até acharia engraçado como os dois estavam alinhados naquilo, apesar de enunciarem de forma diferente, se não estivesse tão nervoso. O mundo parecia ter virado de cabeça para baixo e tudo o que Aleksey achava que era verdade se revelava como mentira, e tudo o que ele achara impossível se tornava possível. Agora, o que ele tinha a perder? Nada. Ele já havia estragado tudo, não poderia piorar nada.
Ele tirou um cacho rebelde da frente do rosto de Morena, se aproximando ao ponto da coxa encostar contra a dela. Seu olhar foi atraído para os lábios carnudos de Morena, a respiração dela próxima o suficiente para acariciar sua pele, e Aleksey sentiu seu coração acelerar ainda mais. Conseguia sentir a intensidade do olhar dela e ela umedeceu os lábios, parecendo se inclinar mais na direção dele.
— Eu não quero ter só uma relação de trabalho — murmurou ele e o suspiro de alívio dela soprou nos lábios dele. Automaticamente, Aleksey respirou aquele ar que ela oferecera.
— O que você quer então?
Aleksey umedeceu os próprios lábios, engolindo em seco, sentindo o olhar de Morena se dirigir até a boca dele. Seu coração parecia prestes a explodir no peito e ela o tocou na bochecha novamente, acariciando a barba antes de descer a mão para o ombro dele. A cada respiração, ele sentia o colo dela roçar contra seu braço e, se quisesse vencer o espaço que restava entre eles, não precisaria se mover quase nada.
— E se eu quisesse te beijar? — perguntou ele rapidamente, antes de perder a coragem. — E beijar Ivan?
Morena arregalou os olhos, e aquilo bastou.
A ousadia de Aleksey se esvaiu de uma única vez. Que ideia estúpida. Ele tentou se afastar, se esforçando para pensar em uma piada para disfarçar a verdade. Que ideia maluca aquela, de que ela o queria também, de que aquilo fosse dar certo.
Antes que pudesse fazer alguma coisa para fugir, Morena o segurou pelo ombro e envolveu sua bochecha com a mão, entreabrindo os lábios e se aproximando, parecendo tão sem palavras quanto ele. Ela levou os lábios à extensão de pele logo abaixo dos olhos dele, roçando o nariz contra o dele, a língua úmida lambendo os vestígios de uma lágrima. Era um gesto tão doce que a excitação que tomou Aleksey parecia quase errada, mas não se permitiu pensar, abraçando-a pela cintura, virando o rosto para buscar a pele de Morena com os lábios, beijando-a no queixo, na bochecha e no canto do lábio enquanto ela beijava seus cílios, suas bochechas, seu nariz.
— Lyosha… — Ela o afastou com um leve puxão de cabelo para encará-lo, e Aleksey sabia que ela estava prestes a beijar seus lábios quando ouviu um homem gritar logo depois, ao longe:
— Aleksey?
Aleksey fechou os olhos, amaldiçoando o talento de Laszlo de aparecer nas horas mais erradas, mas ligeiramente grato de ele chegar até ali impedi-lo de fazer algo sem pensar. Ouviu a voz de Ivan, muito mais próxima, e logo ele apareceu, observando a proximidade de Morena e Aleksey, o modo como estavam ligeiramente ofegantes, o cabelo de Aleksey completamente bagunçado. Era fácil entender o que estava prestes a acontecer ali entre os dois, mas em vez de ficar irritado ou fazer algum comentário, Ivan apenas levantou uma sobrancelha e deu um meio sorriso que fez Morena perder o fôlego audivelmente ao seu lado, e isso foi o suficiente para Aleksey saber exatamente o que ele estava pensando. No mínimo, também estava amaldiçoando o talento de Laszlo de chegar na hora errada.
Morena se afastou de Aleksey e arrumou a roupa e o cabelo, e Ivan tinha um brilho extraordinário no olhar. Ele esperou os dois se arrumarem antes de virar por cima do ombro e anunciar:
— Ele está aqui. — E, virando-se para Aleksey, perguntou: — Você está bem?
Aleksey assentiu, atônito. Laszlo apareceu logo em seguida, vindo da direção do prédio, a luz do salão iluminando-o fortemente por trás e impedindo Aleksey de ver suas feições. Morena se levantou e ofereceu discretamente uma mão para Aleksey se apoiar para se levantar e ele ficou de pé, o corpo inconscientemente pendendo na direção dela.
— Eu fiquei muito preocupado quando Ivan me contou o que tinha acontecido — disse Laszlo, se aproximando de Aleksey, mas parando a certa distância, um pouco confuso quanto a como se comportar. Ele precisaria conversar com Laszlo e explicar todas as coisas que havia deixado de fora quando contara sobre Ivan e Morena. Não só por isso, mas também sentia que seja lá o que tivessem combinado em seu relacionamento não se aplicava mais e Aleksey não tinha tanta certeza assim se Ivan iria gostar da ideia de dividi-lo com alguém além da própria esposa. Pensar em todas essas conversas, em todos os combinados que precisaria fazer, fez Aleksey desejar que pudesse resolver tudo entre quatro paredes, com pouquíssima conversa e muito suor. — Eles não tentaram fazer nada com você de novo, tentaram?
— De novo? — Ivan soou como um trovão na noite, a indignação e a raiva transparecendo na voz. Aleksey abaixou o olhar, sentindo as bochechas quentes, em uma mistura de constrangimento e palpitação por ver Ivan tão irritado por ele. — Fizeram isso mais de uma vez?
— Eles não vão fazer mais nada, nunca mais — disse Morena com um tom imperioso e se virou para Aleksey, abrindo um sorriso suave antes de se despedir com dois beijos na bochecha, aproveitando para sussurrar: — A nossa conversa ainda não acabou.
Ela se afastou, aceitando o braço de Ivan, que arrumou a capa da esposa para que o tecido não arrastasse no chão e olhou para Aleksey com uma sobrancelha levantada, por cima do ombro, com uma sombra de sorriso. Laszlo tomou o lugar dela, oferecendo um braço para Aleksey também, que aceitou, atordoado.
— Vamos voltar para a festa? A essa altura, o jantar já deve estar prestes a ser servido e tenho um pressentimento que dessa vez vou encontrar algo que eu possa comer — disse Morena com alegria e Ivan trocou olhares com ela, antes de lançar um olhar para Aleksey.
— Infelizmente terei que recusar o convite — Laszlo se desculpou, olhando para Aleksey. — Eu preciso me apressar para partir, minha carruagem deve sair em uma hora.
— Ah, não, o que aconteceu? — questionou Aleksey, apertando o braço de Laszlo.
— Kalina caiu do cavalo e parece que quebrou um braço, não parece ser nada muito grave, mas ela não para de chorar me chamando, a coitadinha — explicou Laszlo não só para Aleksey, mas para o casal ali próximo, e Morena fez um som de simpatia em resposta. — Mas você não precisa vir comigo se não quiser. Parece que você estava… — ele fez uma pausa, buscando a palavra adequada, estreitando levemente os olhos. — Se divertindo?
Aleksey olhou para Laszlo boquiaberto, sem entender direito o tom que ele usara, incerto se estava imaginando um quê de ciúmes na última palavra, mas não teve tempo de responder algo coerente antes de Ivan se pronunciar, exibindo um sorriso que Aleksey nunca vira antes:
— Ah, não se preocupe. Se Aleksey quiser ficar, ele vai ficar em boas mãos.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Isabelle Morais
Edição: Laura Pohl e Val Alves
Preparação: Laura Pohl
Revisão: Bárbara Morais e Val Alves
Diagramação: Val Alves
Título tipografado: Vitor Castrillo
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A próxima Noveletter, com a primeira parte do oitavo capítulo de Estudo sobre Amor e outros venenos letais, sairá no dia 09/02.

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