Capítulo 8 [Parte 1] - Estudo sobre Amor e outros venenos letais

Olá para você que nos acompanha!
ESTOU APAVORADA.
As coisas parecem que estão andando para aqueles três patetas queridos, quer dizer, Ivan já conversou com Aleksey (na real, só faltou Ivan abrir as pernas o peito e dar para o Aleksey), e Morena e Aleksey finalmente tiveram a DR que precisava… Bem, que eu e você, leitore, precisávamos ver acontecendo para que nossos corações ficassem mais aliviados. PORÉM, Isabelle Morais criou um trauma tão grande na minha vida (sem nem pagar pela terapia) que estou com medo do que vem por aí. E como se isso não fosse o suficiente, ainda tem o medinho de Laszlo laszlar (mais uma vez) mais um momento importante entre eles.
Laszlo, meu anjo, deixa os três se resolverem e se pegarem primeiro, EU IMPLORO. Deixa a gente ter um momento de felicidade, depois você interromper e pode namorar o Aleksey o quanto você quiser! A gente NUNCA sabe com o que Isabelle Morais vai nos traumatizar no futuro!
Se bem que… se o Laszlo laszlou, quer dizer que eu e você podemos ter mais tranquilidade? Pelo menos por enquanto? Talvez mais coisas sejam resolvidas entre eles? Podemos ter esperanças? Eu sei que não é assim que funciona, mas é o que decidi acreditar, mas só lendo para confirmar essa minha crença louca, então fique com a primeira parte do capítulo oito de…
Estudo sobre Amor e outros venenos letais!
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Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio. Algumas cenas deste capítulo abordam consentimento dúbio.
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Bailes estavam longe de ser a atividade favorita de Ivan. O barulho, a quantidade de pessoas e o calor o deixavam confuso, incapaz de pensar e ansioso, mas aprendera a lidar com todo aquele excesso de sensações porque frequentá-los era parte de sua responsabilidade enquanto marido de Morena. Sua esposa já deixara claro que ele não era obrigado a nada, e sempre tentava deixá-lo o mais confortável possível, se acomodando nos cantos dos salões de bailes ou saindo esporadicamente para tomar um ar, fugindo dos estímulos intensos. Ivan sabia que Morena era completamente capaz de cumprir todas as obrigações sociais sozinha, navegando muito bem o ninho de cobras que era a Corte, mas o mínimo que ele deveria fazer era ser seu parceiro em todas as ocasiões, não só quando lhe convinha.
Era inevitável se lembrar do próprio pai naquelas situações, dos anos um pouco antes do divórcio em que ele deixara sua mãe completamente sozinha de todas as formas que importavam. Huang Zhaohui não era um pai ruim e tampouco um homem ruim, mas como marido, havia sido um fracasso completo e Ivan jurara que nunca seria como ele. Quando seus pais se separaram, Ivan estava com treze anos e ele conseguia se lembrar com muita clareza dos silêncios, do clima esquisito que pairava pela casa todas as vezes que os pais estavam juntos no mesmo cômodo, de como percebera que não era tão normal assim sua mãe estar sempre sozinha, o tempo todo, em todo lugar onde ia. De todas as situações em que seu pai se abstivera, talvez o momento em que a sua ausência foi mais gritante fora no enterro de sua avó — Ivan conseguia se lembrar de sua mãe se desmanchando em lágrimas, incapaz de controlar o fluxo, de como Ivan percebera que ele podia abraçá-la apertado enquanto estivesse ali, mas ele logo voltaria para a Azote e ela nem teria seu pai ao seu lado para consolá-la.
Sua mãe, é claro, sempre tentava defendê-lo — mesmo depois de tantos anos e das complicações que os levaram à separação, mas para Ivan, nada justificava a forma como seu pai simplesmente desistira. Ele podia ser de uma cultura diferente e estava acostumado com outras dinâmicas sociais, no entanto, sabia exatamente no que estava se metendo quando se casara e insistira para que morassem em Argon.
Ivan nunca faria algo parecido. Ele se casara com Morena disposto a passar por todas as dificuldades e felicidades juntos, e se isso envolvesse um milhão de bailes, frequentaria todos eles sem reclamar. Alguns eram mais divertidos que outros, mas até então nenhum havia sido uma montanha-russa como o que se desenrolara naquela noite. Começara com o nervosismo de estar no mesmo local que Aleksey depois da conversa que tiveram, junto com a sensação desagradável que sentia todas as vezes em que o via ao lado de Poroshenko, com uma pitada da insegurança que acompanhava quando ele precisava conversar com tanta gente diferente por tanto tempo.
Estava quase no seu limite quando Morena o guiara para um dos cantos do salão, e foi só por coincidência que Ivan olhou para o lado certo na hora certa. A alguns metros de onde estavam, Aleksey estava encostado contra a parede, distraído, e Ivan testemunhara o exato momento em que um casal o encurralou. Sentiu uma pontada no peito e um nó na garganta, sem precisar com exatidão o motivo do seu incômodo.
Já vira Aleksey e seus amantes inúmeras vezes antes e nunca sentira nada parecido com o que sentira naquele instante. Era uma sensação de que ele havia errado em algum lugar, de que tudo só estava acontecendo porque não se esforçara o suficiente para se fazer entender. Daí viera a confusão, a urgência de fazer Morena roubá-lo daqueles dois antes que ele fizesse alguma besteira, a agonia de não conseguir encontrar Poroshenko, a raiva e a frustração com toda a situação. Se Ivan estivesse no lugar de Poroshenko, nunca deixaria algo daquele tipo acontecer. Em hipótese alguma.
Porém, no fim das contas, a única coisa que importava era que tudo dera certo. O sorriso imenso que a esposa exibia enquanto retornavam para a sua cabana e a forma animada com a qual ela lhe contava uma fofoca qualquer da Corte evidenciava a certeza daquela declaração. Havia também o sorriso tímido que Aleksey dera antes de seguir seu caminho ao lado de Poroshenko e que fizera o coração de Ivan se acelerar, o primeiro sorriso genuíno que ele vira Aleksey dar em quase dois anos.
Aleksey sorrira e acenara, e Ivan observara todos aqueles detalhes, ávido, como se estivesse sentindo o mundo mudar no próprio eixo bem debaixo dos seus pés.
Havia uma tensão que permanecera no ar depois da despedida rápida de Aleksey, ao seguir de braços dados com Morena para sua própria cabana, e a sensação de que tudo ali estava prestes a mudar. De que tudo estava prestes a se encaixar.
— Eu nem consigo acreditar que dessa vez a gente realmente conseguiu comer bem — Morena comentou com alegria enquanto soltava a capa de sua fantasia, depois de Ivan fechar a porta da cabana atrás de si. — E ainda estava gostoso!
— Acho que a Condessa Medinikov ficou envergonhada de termos ido para a cidade para você poder se alimentar, o que era para ser o mínimo que ela poderia oferecer já que é a anfitriã. Quem diria que seria o medo de ficar mal falada é o que resolveria o problema?
Aquele comentário pareceu sugar toda a alegria de Morena e ela suspirou, encolhendo os ombros, se retraindo e se afastando, mesmo sem sair do lugar. Algo de fato acontecera durante a caçada, ele tinha certeza absoluta. Ela voltara mais retraída do que o de costume, mais ausente, e durante o dia anterior, que passaram conhecendo Kynchyk, mal saíra do lado de Ivan, como se não quisesse perder um segundo que fosse do tempo em que estavam juntos. Havia algo acontecendo na cabeça de sua esposa e ele não fazia ideia do que era.
Por um momento, o pavor de que o sem noção do Ashbury — aquele mago estúpido que sequer deveria estar em Argon — pudesse ter conversado com ela e contado tudo sobre o projeto que eles trabalhavam em conjunto subiu por sua garganta e ele fechou as mãos, irritado. Depois do primeiro dia, Ivan só o vira à distância, o iridiano ocupado demais com todas as novidades “exóticas” para prestar atenção nele, mas não duvidava nada que o homem se esquecesse completamente do fato de que a pesquisa deles era secreta, assim como quem fazia parte dela.
E o maior segredo de todos, o que, se dependesse dele, Morena jamais saberia: o coordenador de tudo era Yakov Yulievich Barabash. O tio de Aleksey, o homem que dera um tiro na perna do sobrinho, o responsável por todas as desgraças dos últimos meses.
Por um instante, Ivan considerou como explicaria aquela situação para Morena. Era um assunto interessantíssimo. Era irrecusável. Uma oportunidade perfeita. Eu só não aguentava mais ficar dentro de casa, entediado, sozinho. Ela iria querer saber de tudo, nos mínimos detalhes, e nunca aceitaria a explicação de que era dessa forma que Ivan conseguiria manter Yakov sob controle, sob suas vistas, com a vantagem de ainda participar de uma pesquisa completamente inédita que era importante para ele.
Morena levantou o olhar e Ivan precisou se conter para não dar um passo para trás com a intensidade daqueles olhos, seu coração acelerado.
— Você sabia que a prima da Condessa Medinikov é a esposa de Yakov? — perguntou Morena casualmente enquanto tirava um dos seus brincos e Ivan franziu a testa. — Nadezhda Lyubovevna. No jantar de boas-vindas ela veio falar com Aleksey. Você se lembra? Aquela bonitona.
Um alarme começou a soar na mente de Ivan. Ele se lembrava da bonitona, não daquele dia do jantar, mas sim de vê-la algumas vezes saindo da sala de Yakov nos laboratórios do subsolo do Palácio do Imperador, de vê-la supervisionando tudo do topo da escada, de relatórios retornarem para ele reescrevê-los de forma que ela conseguisse compreender. Umedeceu os lábios e sentiu a garganta seca.
— Ela falou algo para você? — perguntou Ivan, passando uma mão no cabelo, tentando parecer mais calmo do que se sentia. Se desse qualquer sinal de nervosismo, sabia que sua esposa descobriria na hora que ele estava escondendo alguma coisa.
— Nada importante. — Morena começou a tirar os grampos que prendiam sua tiara sem olhar na direção dele. — Eu só acho que foi ela que garantiu que o cardápio de hoje fosse adequado para nós.
— Assim, de graça? — falou Ivan, levantando uma sobrancelha e cruzando os braços, na esperança de esconder a tensão que sentia até na ponta dos dedos.
— Ela parece uma mulher que faz algo de graça? Provavelmente só quer tentar uma abordagem diferente da de Yakov para ganhar a nossa confiança. Não sei. — Morena deu de ombros, ainda tirando grampos dos seus cachos.
Ivan se aproximou para ajudá-la, virando o rosto de Morena para cima enquanto a segurava pelo queixo, erguendo os olhos dela.
— A gente não pode confiar nessa gente.
— Eu sei muito bem disso, meu amor — disse Morena, com um divertimento na voz. — Mas se ela quer me alimentar, não sou eu que vou reclamar.
— Ela não falou nada esquisito para você? — Ivan tentou soar descontraído, mas seu coração parecia um tambor no peito. —Tem certeza?
— É claro que ela falou coisas esquisitas para mim, você acha o quê? — Morena deu um sorriso amargo que fez sua covinha aparecer. — Ela tem uma ideia completamente distorcida de Aleksey e tentou me convencer de diversos absurdos sem sentido.
Ivan ficou em silêncio, mordiscando a parte interna da bochecha enquanto Morena se virava para que pudesse continuar o trabalho de encontrar os grampos até conseguirem soltar a tiara. Agradeceu a todas as Santas e Santos que ela estava de costas e não veria como seus movimentos estavam oscilantes, trêmulos, e Ivan se forçou a focar na tarefa em questão, nos fios grossos e sedosos do cabelo da esposa, no calor que ela irradiava o tempo todo. Quando terminou, o cabelo de Morena caiu como uma cascata sobre as costas, descendo abaixo da cintura, e Ivan afundou os dedos nos cachinhos macios até achar a nuca de Morena e a massagear para aliviar os efeitos da tração do penteado. Morena soltou um gemido delicioso e se recostou contra ele com um suspiro de alívio.
— Obrigada. — Morena virou o rosto o suficiente para olhá-lo de soslaio antes de continuar: — Não se preocupe, Ivan. Ela não fez nada comigo. Se ela tivesse feito, não teria sobrado muito para contar a história.
— Pedir para eu não me preocupar com você é a mesma coisa que pedir para a água não molhar, meu amor. — Ivan se afastou um pouco e beijou as costas da mão dela e seus dedos.
Ele enxugou as mãos na própria roupa quando ela voltou o rosto para a frente e abaixou a cabeça para retirar as joias dela, tentando controlar sua paranoia. Se Morena soubesse de algo, não estaria tão calma daquele jeito, tão tranquila, tão sorridente. Não teria voltado da caçada direto para os braços dele, tão faminta pelo seu toque. Ela provavelmente tiraria satisfação na mesma hora, furiosa, indignada que estivesse escondendo algo tão importante. Ivan já repassara o diálogo na sua mente inúmeras vezes, em todos os cenários possíveis, e já conhecia todas as possibilidades de como aquilo poderia se desenrolar — e justamente por conhecer as possibilidades, vinha adiando o momento de contar para ela. Porém, agora que as coisas estavam prestes a serem resolvidas com Aleksey, tudo ficaria mais calmo e ele poderia finalmente se confessar. Se falasse com jeitinho, ela não ficaria irritada. E se Aleksey estivesse lá, entenderia o que Ivan tinha tentado fazer e o ajudaria a explicar os sentimentos que o próprio Ivan não tinha palavras para descrever.
Era naquilo que Ivan precisava focar, em fazer tudo se acertar. Afinal, tudo o que fazia era por Morena e por Aleksey, incluindo sua pesquisa. Ele carregava uma mentira tão grande como aquela justamente por achar que valeria a pena, na esperança de ser o primeiro a descobrir uma forma de impedir a decadência inevitável que decorria do uso contínuo de magia, para conseguir provar que os rebotes não eram inexoráveis, que finais como os da mãe de Morena ou de sua avó não deveriam ser regra. Seria ele quem salvaria Morena e Aleksey daquele fim, quem impediria que se queimassem como estrelas e quem os manteria a são e salvo, custando o que custasse. Estava disposto a fazer qualquer coisa para vê-los felizes e sacrificaria o que fosse preciso.
Mesmo se, por princípio, não compreendessem o motivo de Ivan estar fazendo tudo isso.
Ivan se voltou aos botõezinhos do corpete do vestido de Morena, concentrando-se para desabotoá-los. Ele não estava fazendo nada demais. A pesquisa com o Imperador, coordenada pelo tio de Aleksey, era apenas um meio para seu objetivo final, uma oportunidade de ter acesso a conhecimentos e recursos que nunca conseguiria sozinho. Ivan não pretendia compartilhar nada útil com os outros, apenas usá-los para conseguir o que queria. Não deveria sentir tanta culpa; afinal, só estava virando o joguinho de Yakov a seu favor.
— Eu gostei de ver você sorrindo hoje — murmurou Ivan e viu os pelos da nuca da sua esposa se arrepiarem. — Tão animada. Também fiquei feliz de ver Aleksey hoje, com aquele sorrisinho, antes de deixarmos ele com Poroshenko.
— Ele é um homem muito bom para Aleksey. Muito gentil. — Morena segurou o corpete que Ivan terminara de desabotoar e se virou para ele, analisando-o com intensidade antes de acrescentar: — Eu gosto dele.
— Mas não foi Poroshenko que colocou aquele sorriso no rosto de Aleksey — notou Ivan, sem controlar a inflexão de desdém ao dizer o nome do outro homem. Não que tivesse algo contra Poroshenko, pessoalmente, era mais contra o conceito de sua existência. Apenas de pensar nele já se irritava. Ele parecia ser incapaz de fazer o mínimo requerido para estar com Aleksey, sem cumprir o básico que era estar lá quando Aleksey precisava dele.
— Não foi mesmo. — Morena umedeceu os lábios vagarosamente e depois os curvou em um sorriso travesso. O olhar de Ivan foi diretamente para as mãos dela, que abriram o fecho do colar que usava e desceram pelo espartilho, desenhando a cintura, até chegar nas saias. Algumas vezes, era muito difícil se concentrar em qualquer coisa por muito tempo quando sua esposa estava por perto. Ela estalou os dedos, chamando sua atenção e levantando as sobrancelhas. — Você está tentando descobrir o que eu falei com Aleksey, Ivan Irinin? Achei que tínhamos combinado de que o que um de nós conversa com Aleksey é só entre a pessoa e ele. Não é motivo para bisbilhotar.
Ele se aproximou mais e desceu a mão para a cintura dela, procurando os cordões para ajudá-la com as saias e anáguas.
— Eu não quero saber o que você falou com ele — disse Ivan devagar —, só quero saber sobre o que vocês conversaram.
Morena gargalhou e deu um tapinha nas mãos dele antes de se afastar para terminar de tirar a fantasia sozinha.
— A ideia de ir até ele foi sua, inclusive — ela falou aquilo como provocação e terminou de afrouxar a saia mais externa, começando a trabalhar nos laços das internas.
— Eu só estou curioso — resmungou ele e a imitou, desprendendo a capa pesada sobre seus ombros e atirando-a no sofá. — Ele me disse algumas coisas bem interessantes da última vez que conversamos.
— Interessantes? Interessantes como?
— Achei que isso não era motivo para bisbilhotar.
— Ah, parece que o feitiço se voltou contra a feiticeira! Eu devia ter antecipado que você faria isso. — Morena riu e terminou de abrir as saias, abaixando-as até o joelho para sair de dentro delas, pendurando-as em um braço antes de se virar para Ivan com uma mão na cintura.
Era tão bonita, sua esposa. Com o cabelo solto emoldurando seu rosto anguloso, a expressão travessa e irreverente, o seu corpo voluptuoso e cada vez mais delicioso, ela não se parecia tanto com a deusa da qual se fantasiara, e sim com os espíritos de raposa que povoavam as histórias da avó de Ivan e devoravam os corações de quem atraíam. Se Morena quisesse devorar seu coração, Ivan não se importaria. Ele poderia dedicar cada minuto do seu dia para adorar a figura que o espartilho desenhava, destacando os seios fartos, a cintura bem marcada que dava caminho aos quadris largos, idolatrando as coxas grossas que as meias de seda apenas ressaltavam.
Só que não era esse o seu objetivo naquele momento. Ele precisava de foco.
— Eu falei merda para ele — disse Ivan com sinceridade e Morena pareceu surpresa com a honestidade. Ele passou uma das mãos pelo rosto, frustrado ao relembrar da conversa. — E depois fui pedir desculpas. Ele não achava que eu considerava ele como um amigo, Morena.
Morena se aproximou devagar, lembrando uma gata, e enroscou um dedo no cinto do khalat de Ivan.
— Humm, faz sentido que ele ache isso.
— Como é que isso faz sentido, Morena!? Ele deve ter um armário inteiro só com as coisas que dei de presente para ele ao longo desses anos, gastei horas do meu tempo para ajudá-lo, ele sabe de coisas sobre mim que nem você sabe — disse Ivan, seu tom subindo um pouco com a indignação e ela olhou para cima, para seu rosto, segurando o riso.
— Meu amor, você lembra, nos primeiros anos em que a gente era casado, como eu tinha medo de não conseguir retribuir seu amor da mesma forma que você me ama? — perguntou Morena, e Ivan assentiu, franzindo a testa. — E você me disse que não fazia diferença, que você me amava do jeito que eu era e se contentava com o meu amor do jeito que ele é.
— Eu lembro, só não entendo o que isso tem a ver com Aleksey.
— Aleksey não sabe reconhecer nenhuma forma de amor direito, talvez só a forma como a mãe o ama, que é igual a de um gavião que joga um filhote para fora do ninho para que ele aprenda a voar. — Ela brincou com o nó do cinto antes de desamarrá-lo. — Então a última coisa que ele vai entender de qualquer gesto é amor.
— Mas ele nunca duvidou que você fosse amiga dele — resmungou Ivan, contrariado.
— E ainda assim ele acreditou que poderia sair da minha vida sem fazer falta alguma. — Morena abaixou os olhos. — Porque eu tenho você. Foi o que ele disse. Você tem Ivan e Ivan tem você.
Ivan sentiu sua respiração prender na garganta e percebeu que era a primeira vez que falavam tão diretamente sobre Aleksey em muito tempo, sobre o papel dele em suas vidas. Não se arrependia do combinado que fizeram antes mesmo de se casarem, quando percebera que Aleksey conseguia suprir uma necessidade de Morena que ele nunca conseguiria, e também não queria que ela se sentisse obrigada a contar tudo para ele. Ao longo dos anos, também percebera que, ao contrário do que achava, ele precisava de alguém além de Morena, que havia sentimentos que só Aleksey entendia, que Ivan só tinha coragem de compartilhar com ele. O lado negativo de se casar com sua melhor amiga era aquele: Ivan sabia que existiam coisas pelas quais passava que deixavam Morena preocupada e ela já tinha coisa demais acontecendo para precisar se atarefar com mais uma besteira como aquela. Aleksey se encaixava bem no ponto de equilíbrio entre os dois, uma peça fundamental daquele relacionamento. Porém, Ivan conseguia perceber como ele apenas presumira que para Aleksey, a dinâmica era igual — a amizade com Morena e com ele eram diferentes, mas complementares, as duas igualmente importantes. Não parecia ser o caso.
— Mas não é o suficiente — murmurou Ivan.
— Não, não é — concordou Morena, levando uma mão ao rosto de Ivan, acariciando sua bochecha gentilmente. — Mas eu não acho que ele acreditaria mesmo se a gente dissesse para ele mil vezes.
Ivan segurou a mão dela, se virando para beijar a palma.
— Ele me disse que se fosse para voltar para nossas vidas, não seria do mesmo jeito de antes.
— Não tem nem como, não depois de tudo isso.
Morena ficou na ponta dos pés para tirar a coroa de flores de Ivan e lhe deu um beijinho nos lábios antes de se afastar para se acomodar na beirada da cama. Ela começou a afrouxar o espartilho, tirando o cabelo do caminho e Ivan permaneceu onde estava, recostando-se na cômoda próxima e começando a tirar os anéis descuidadamente.
— Ele também me disse que se fosse para ir para a nossa cama novamente, dormir seria a última coisa que ele faria — disse Ivan, por fim.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Isabelle Morais
Edição: Laura Pohl e Val Alves
Preparação: Laura Pohl
Revisão: Bárbara Morais e Val Alves
Diagramação: Val Alves
Título tipografado: Vitor Castrillo
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