Capítulo 8 [Parte 2] - Estudo sobre Amor e outros venenos letais
Olá para você que nos acompanha!
Como dizia a minha avó, quem não deve não teme. Infelizmente esse não é o caso de Ivan, que parece ter acabado de perceber que ele deve e muito. Mas quem é que nunca se esqueceu de falar algo de extrema importância para alguém e depois ficou enrolando porque sabia que a situação iria ficar pior por não ter falado na hora que deveria ter sido falado, apenas piorando só um pouquinho mais a situação? Tal qual Ivan esquecendo de contar sobre uma coisa tão pequena quanto participar de uma pesquisa com o cara que deu um tiro no homem que ele ama. É apenas um detalhezinho! Tão pequeno! Quem nunca esqueceu de avisar sobre algo importante neste nível que atire a primeira pedra!
Bom, melhor eu parar por aqui porque daqui a pouco não vou ter mais pano para passar pro Ivan. Sinto em meu coração que preciso economizar para o futuro porque Isabelle Morais é uma CRIMINOSA. Agora, fiquei com muitas dúvidas… Será que depois de tudo que o Aleksey fez, Morena ainda vai querer ele na vida deles? Assim, tudo bem dar uns beijinhos, né, mas a confiança dela foi muito abalada com o que ele fez… E se ela não quiser? O que o Ivan vai fazer???
Ninguém me avisou que a maior complicação de um trisal não era o ciúmes, MAS SIM LIDAR COM O TRAUMA DE TRÊS PESSOAS!!!
Por favor, eu só quero que o Aleksey ganhe um beijinho! Tomara que Laszlo não lasleie dessa vez. Isabelle Morais, estou implorando, não seja cruel assim conosco.
Será que Isabelle atenderá nossas preces? Descubra mais lendo a parte dois do capítulo oito de…
Estudo sobre Amor e outros venenos letais!
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Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio.
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— Ele também me disse que se fosse para ir para a nossa cama novamente, dormir seria a última coisa que ele faria — disse Ivan, por fim.
Ela ficou em silêncio por um tempo que pareceu durar eras, demorando mais do que o necessário para puxar os laços da roupa que vestia e desenrolar suas meias. Ivan subitamente ficou nervoso. Estava implícito na conversa que o afeto que ambos nutriam por Aleksey não era uma questão, que a forma como Ivan se sentia não a incomodava, e ele esperava que aquilo estivesse óbvio: como ele amava a parte de Morena que amava Aleksey, como a única coisa que fazia sentido para ele era se os três estivessem juntos.
Só que a parte do desejo… Ele sabia que Morena sentia desejo por outras pessoas e, no pensamento de Ivan, o desejo e o amor eram claramente separadoas — o amor que Morena tinha por ele era só dele, e ela nunca amaria outra pessoa da mesma forma — ao ponto de Ivan ter certeza de que não se importaria se ela decidisse procurar outros parceiros sexuais. Sabia que nenhum deles seria tão bom quanto ele, porque nenhum teria a intimidade que ele e Morena compartilhavam, ninguém a conhecia tão bem quanto ele, ninguém seria capaz de fazê-la implorar para ser tocada como ele. Porém ela não achava justo, se os dois não buscassem por isso. Se Ivan quisesse e tivesse outros parceiros, ela também teria. Só que Ivan nunca tinha se interessado por isso em particular.
Menos quando se tratava de Aleksey. As coisas eram confusas e misturadas demais para os dois, e quanto mais Aleksey se entrelaçava na vida do casal, mais complexo tudo ficava. A única coisa que sempre estava clara era que se algum dia Aleksey demonstrasse interesse em um dos dois, poderiam seguir em frente, desde que não fosse em segredo. Ele sempre esperava que Aleksey se abrisse com Morena, porque parecia inevitável, principalmente com os rebotes que vinham com a magia que as Entropias faziam, considerando a forma como ela dissipava todo tipo de energia, principalmente a sexual. Também esperava, secretamente, que eles ao menos o chamassem para observar. Amava vê-los juntos, principalmente enquanto dançavam, os corpos em sincronia, a cumplicidade e a intensidade que emanavam, o quanto se divertiam, e sabia em seu coração que não haveria visão mais bonita do que os dois juntos, compartilhando com ele o prazer que davam um para o outro.
Nenhum dos dois havia considerado a hipótese de que Aleksey poderia querer os dois e talvez, para Morena, aquele não fosse um bom arranjo. Ela poderia ter mudado de ideia depois que Aleksey parara de falar com eles, mas Ivan ainda queria acreditar que tudo continuaria como antes.
— Ele me disse que se sente sozinho. — Morena quebrou o silêncio, puxando as pernas para cima da cama e as abraçando contra si. — Eu nunca mais quero ver ele com aquela expressão que estava no baile, Ivan. Aquele olhar perdido, assustado, como se estivesse completamente desamparado, como se não tivesse nenhuma escolha a não ser sofrer. Como se a única escolha dele fosse sempre fazer algo que não quer. Eu não quero que ele ache que se, por um acaso, quiser transar com a gente, vai ser obrigado a se prender nessa situação para sempre.
— Ele não vai achar isso. — Ivan se aproximou, sentando-se ao lado dela na cama.
Morena virou o rosto para olhá-lo, e ele arrumou uma mecha de cabelo atrás da orelha dela, deixando a mão ali. Morena fechou os olhos.
— Você não tem como saber, Ivan.
— Morena, o lugar dele é aqui, com a gente, você deitada ao meu lado, ao meu alcance, e ele do outro — disse Ivan, a voz surpreendentemente rouca ao enunciar aqueles sentimentos com tanta clareza. — Ele é nosso. Ele não vai a lugar nenhum, porque ele ama a gente, assim como nós o amamos. Ele só precisa entender isso.
— Como você pode saber que é assim que ele se sente, Ivan? Se nem eu e você amamos da mesma forma, como você tem tanta certeza dos sentimentos dele? Que é assim que ele ama? — Morena suspirou. — Se ele nos ama como eu o amo, não vai importar o que acontecer entre a gente, não vai importar se ele está na cama com a gente ou não, desde que ele continue por perto. Desde que ele continue na nossa intimidade e convívio. Não vai fazer tanta diferença assim, no fim das contas, e não parece ser o caso. Se ele nos ama como você me ama, ele vai achar que precisa estar conosco para sempre, conectado a nós de forma incondicional, e talvez ache que não pode nos deixar para trás mesmo se ele deixar de nos querer.
Ivan franziu a testa, tentando entender o que Morena queria dizer com aquilo, a diferença no tom de voz ao comparar as duas formas. Parecia um julgamento, uma descrição pobre e reducionista do que Ivan sentia, da forma como ele sentia.
— Você está dizendo que o jeito que eu amo é errado? — perguntou, erguendo uma sobrancelha, mais confuso do que ofendido.
— Eu estou dizendo que Aleksey ama a gente da forma dele, assim como eu te amo da minha forma e você me ama da sua maneira. — Ela entoou aquilo como se fosse óbvio. Havia um pouco de frustração na voz, como se ela estivesse explicando uma coisa que uma criança de cinco anos era capaz de entender. — E a coisa que ele mais tem medo é justamente isso, as coisas que ele sente. O que a gente sente. Se for para continuar nesse caminho, a gente tem que entender e aceitar isso em vez de deixá-lo assustado.
Ivan ficou em silêncio, sentindo uma bola na garganta, um sentimento tão incomum o dominando que sequer era capaz de reconhecê-lo de imediato. Sentiu os olhos arderem e desceu a mão até o ombro da esposa, sentindo uma dor leve no peito. Era assim que Morena via seu amor? Como algo que o acorrentava a ela, que o faria ficar com ela só por obrigação, só porque achava que os votos que trocaram eram incondicionais? Era aquela forma distorcida e estranha de amor que ela achava que ele sentia?
— Você acha que eu ficaria com você mesmo sem te amar? — perguntou ele sem desviar o olhar.
— Eu não falei isso. — Morena olhou para os próprios joelhos e Ivan sentiu seu rosto ficar quente, o peito apertar. — É só que você tem um senso de dever tão forte relacionado ao seu amor que eu sinto que mesmo se todos os outros sentimentos desaparecessem, você ainda se sentiria responsável…
— Morena, você acha que eu não te amo o suficiente? Eu sou tão ruim assim em demonstrar o meu amor que nem você e nem ele — Ivan a soltou e apontou com a cabeça na direção da cabana onde Aleksey e Poroshenko estavam, ao lado — acreditam nos meus sentimentos?
— Eu não disse isso! — Morena se endireitou, estendendo a mão para encostar em seu ombro, mas Ivan se desvencilhou do toque. — Junjun, meu amor, eu não duvido de você, eu só tenho medo…
— Eu acho que a gente passou por muita coisa nesses últimos dias. — Ele se levantou, seguindo na direção do lugar onde guardara sua cigarreira. Precisava se distanciar daquele bolo no peito, daquele sentimento entalado que ameaçava transbordar. Precisava sair daquele cômodo antes que ele o sufocasse. — E nada que a gente conversar vai ser produtivo agora. Acho que vamos falar coisas das quais nós dois vamos nos arrepender.
— Junjun, por favor — Morena o seguiu, alcançando Ivan enquanto ele tirava a cigarreira e o isqueiro do colete que usara de manhã e que estava pendurado no quarto de vestir ao lado. — Não se fecha para mim, não era nada disso que eu estava tentando dizer. Por favor, eu não queria que você ficasse chateado, eu só achei…
A manga do khalat que Ivan vestia se prendeu no botão de um colete, e quando ele tentou se soltar, tropeçou em uma das malas, e atrapalhou-se com os cabides. Sentiu as bochechas queimarem de vergonha e engoliu a irritação, tirando a peça de roupa pela cabeça de uma vez, jogando-a em cima das malas.
Morena ficou paralisada na porta, encarando-o.
Aquela visão fez o nó na sua garganta aumentar: a esposa praticamente nua, parecendo um pouco desamparada com os olhos arregalados e preocupados.
— Está tudo bem, meu amor. — Ivan se inclinou para beijá-la na bochecha de forma quase mecânica. — Eu só preciso sair e fumar um cigarro.
— Eu posso ir com você? Para pegar um ar também?
Ivan sentiu o nó aumentar diante da expressão suplicante e culpada de Morena e a forma como ela o segurava pela mão, como se não quisesse deixá-lo partir. Porém, se ficasse ali, aquilo inevitavelmente viraria algo muito maior, uma discussão que não levaria a nada. Ele falaria coisas horríveis, ela falaria coisas horríveis; no final tudo ficaria estranho entre eles. Porém, se saísse para fumar e organizar seus sentimentos, se conseguisse entender por que sentia um bolo na garganta e vontade de chorar com a ideia de que havia algo inerentemente errado com a maneira que expressava seus sentimentos, de forma que nem sua própria esposa tinha certeza da constância deles, os dois poderiam só esquecer aquela noite e aquela conversa, e nunca mais pensariam no assunto de novo.
— Eu preciso só de um tempinho sozinho, pode ser? — disse ele, da forma mais carinhosa possível, e ela assentiu em silêncio, soltando-o.
Mesmo de madrugada, o ar fora da cabana estava tão quente que parecia sufocar, e nenhuma brisa parecia correr. Ivan deu a volta na cabana, parando na lateral que dava para a vegetação, escondendo-se entre os arbustos de hibisco e de espirradeira, tentando evitar ao máximo que alguém o visse ali. Acendeu o cigarro, tragando profundamente e tentando organizar seus pensamentos.
As coisas que fazia eram tão erradas assim? Para ele, toda a expressão de seus sentimentos parecia tão óbvia, tão certa. Se possuía a certeza de que Morena o amava — sempre que ela o escutava mesmo quando se perdia em suas ideias, a cada vez que ela massageava seus ombros depois de um dia que ele passara debruçado nos seus livros e cálculos, a cada pequeno gesto de cuidado, a cada silêncio confortável que compartilhavam — não era possível que ela não soubesse que ele retribuía tudo na mesma medida. Cada pequena coisa que ele fazia para ela, Ivan o fazia com o maior prazer do mundo, depositando um pedacinho do seu sentimento em cada ação, espalhando pequenas demonstrações de amor em cada gesto. No entanto, se aquela fosse a única forma como conseguia se expressar, até compreenderia como ela não repararia, mas ele a enchia de presentes, de carinho e de afeto, e tudo que ela pedisse e estava ao alcance dele. Ele repetia isso a toda oportunidade! Como ela podia sequer cogitar que ele não a amasse, que estava fazendo tudo só por obrigação?
E aquela fala de Morena era só um eco do que Aleksey lhe dissera antes, de que achava que Ivan fazia tudo por um senso de obrigação com Morena. Era essa a imagem que passava? De que era um suplício estar perto dos dois, de que não era agradável, de que estava ali forçado? Ele não conseguia parar de pensar nos dois e em tudo que fazia era para eles, mas eles sequer percebiam. O que Ivan precisaria fazer para que entendessem?
Ivan precisava de algo grande o suficiente para provar de uma vez por todas a magnitude do seu sentimento. De algo que os fizesse compreender sem deixar margem para dúvida, algo inegável, incondicional, que mostrasse até onde estava disposto a ir por Morena e Aleksey. Subitamente, a pesquisa voltou à sua mente e ele entendeu o que precisava fazer.
Se conseguisse descobrir como salvá-los das consequências do uso da magia, Aleksey e Morena saberiam. Não restaria mais dúvida do quanto Ivan se importava.
Sentiu um toque contra o seu braço e virou-se assustado, e deparou-se com Aleksey ali, quase do mesmo jeito e no mesmo local em que se encontraram no primeiro dia, mas em uma situação que não poderia ser mais diferente. A luz da lua o iluminava, fraca, e havia uma ruga de preocupação entre as sobrancelhas.
— Está tudo bem? Eu te chamei algumas vezes e você não me ouviu… — Ele deixou a frase morrer e aproximou-se, a expressão ficando mais suave. — Você está chorando?
Ivan franziu a testa e passou as mãos pelo rosto, horrorizado ao perceber a umidade, enxugando rapidamente as bochechas com as costas das mãos, completamente constrangido. Ele deu as costas a Aleksey e respirou fundo, tentando se controlar. Ele nunca chorava. Nunca, em hipótese alguma, e nem Morena o vira naquela situação lastimável. Sentiu uma vergonha quase visceral, escondendo o rosto com uma das mãos, os olhos ardendo como se estivessem cheios de areia.
Em vez de ir embora, como Ivan esperava, Aleksey deu a volta nele, ficando mais uma vez de frente.
— Ivan, o que aconteceu? Vem aqui…
Antes que Ivan pudesse fazer algo, Aleksey colocou uma mão sobre o braço dele. Ainda vestia a mesma roupa do baile — uma blusa de algodão cru semiaberta, com as mangas folgadas, um colete vermelho-escuro bordado por cima; a calça justa com uma bota alta, um lenço na cabeça e inúmeros colares — e enfiou uma mão no bolso para tirar de lá um lenço branco, oferecendo para Ivan.
— Está tudo bem. Eu estou bem. — A voz de Ivan fraquejou e ele quis que a terra se abrisse e o devorasse vivo para não precisar passar por aquela situação miserável. — Não se preocupe. Morena está na cabana, se estiver procurando por ela.
Ivan não conseguiu decifrar a expressão que Aleksey fez quando a mão se fechou ao redor do lenço que oferecia com mais força, mas seu tom era leve quando sugeriu:
— Se está tudo bem, deixa pelo menos eu enxugar essa chuva que caiu só na sua cara.
Ivan soltou uma gargalhada, e Aleksey sorriu, aproximando-se até ficar a centímetros de distância. Enxugou o rosto de Ivan, apoiando a outra mão no braço, e Ivan emitiu um suspiro por reflexo. Ele fechou os olhos, sentindo o tecido macio contra a sua pele, o perfume de Aleksey o envolvendo, a firmeza da mão de Aleksey que o centrava ali naquele momento. Ele estava errado de achar que esse gesto tão pequeno era uma prova do quanto Aleksey se importava? De achar que a preocupação que ele exibia era um testamento da intensidade com a qual Aleksey o amava?
— Agora sim — disse Aleksey com satisfação e passou uma mão no cabelo de Ivan, arrumando-o quase sem pensar. — Melhor ainda.
— Obrigado.
Aleksey sorriu de uma forma que Ivan nunca vira antes, parecendo tranquilo apesar daquele constrangimento que Ivan claramente sentia. Ivan sentiu o peito de apertar com uma única certeza: não queria que Aleksey fosse embora, não naquela noite. Não quando Ivan estava tão inseguro e Morena cheia de incertezas.
— Disponha — disse Aleksey e deu um passo para trás, mas Ivan o impediu, segurando-o.
— Você poderia me dar um abraço? — pediu Ivan antes que perdesse a coragem, a vergonha queimando em seu rosto, e Aleksey pareceu tão surpreso com o pedido que era quase como se Ivan tivesse sido atingido por um golpe.
Não conseguia se lembrar da última vez que pedira algo tão simples para alguém, nem para Morena. Talvez aquilo fosse o cerne da questão, afinal — podia fazer tudo o que fosse no mundo, mas não se entregava o suficiente. Não da mesma forma que Morena se mostrava por inteiro ou como Aleksey, que se permitia ser completamente vulnerável, pelo menos quando estavam juntos. Por outro lado, Ivan preferia guardar o que sentia em uma caixinha para não atrapalhar sua vida, muito menos incomodar ninguém com seus problemas, que eram muito menores e menos importantes do que as coisas pelas quais Morena e Aleksey passavam.
Aleksey o envolveu, e Ivan o abraçou de volta, relaxando, apertando-o contra si e apoiando a cabeça no ombro do outro rapaz. O ritmo constante do coração de Aleksey batendo contra o seu o acalmou aos poucos, e Aleksey levou uma mão à cabeça de Ivan em um gesto protetor, acariciando o cabelo da nuca como se ele fosse um bichinho. Em vez de perguntar o que aconteceu, Aleksey só o segurou, dando todo tempo do mundo para que Ivan se recuperasse. Era bom não ter a mente cheia de preocupações, pelo menos por um instante, sentindo o calor do corpo de Aleksey contra o seu, a segurança dos seus braços.
— Está melhor? — murmurou Aleksey com gentileza, descendo a mão que o segurava na cabeça até encontrar a outra na cintura.
Ivan concordou com um ruído, virando o rosto para encostar o nariz contra o pescoço de Aleksey, sentindo-o estremecer em seus braços, com a respiração quente contra sua pele. Por um instante, teve certeza que Aleksey iria soltá-lo, mas Ivan nunca se sentiu tão grato por estar errado quanto naquele momento.
— Eu preciso de você. A gente precisa de você — murmurou Ivan por fim, como se estivesse retomando uma conversa. E talvez estivesse. Era sempre a mesma conversa. — Eu e Morena. Eu não sou suficiente para ela.
— Ivan, não é…
— Aleksey, é um fato. — Ivan levantou o rosto, sem soltá-lo. — E eu não posso sobrecarregá-la com mais uma coisa.
— Seus sentimentos não são uma coisa — disse Aleksey com um tom de indignação. — Seja lá qual for o problema, eu tenho certeza que é só conversar com ela…
— E se não der para resolver com ela? — retrucou Ivan. — E se eu nem souber direito qual é o problema? E se eu só precisar conversar sem preocupá-la?
— Para isso que servem os amigos, você sabe. — Aleksey levantou uma sobrancelha e Ivan revirou os olhos.
— Você é meu amigo.
— Ivan… — Aleksey hesitou por um instante. — Eu já disse que quero ser mais do que isso.
— O que isso quer dizer, sabe! — bufou Ivan, frustrado. — Morena é minha amiga e também minha esposa. Uma coisa não anula a outra. A gente não pode ser amigo além de alguma outra coisa? Eu sinto a sua falta, prometo que não vou ser mais como antes, você vai saber que eu me importo com você. O quanto eu te quero. O quanto eu te desejo.
Dessa vez, Aleksey não hesitou. Levou uma mão ao rosto de Ivan e venceu o espaço entre eles, encostando seus lábios quentes nos dele. Por um instante, o cérebro de Ivan pareceu parar, incapaz de entender a sensação daqueles lábios macios contra os seus, a aspereza da barba contra sua pele, o cheiro de Aleksey inundando seus sentidos. Foi tempo o suficiente para Aleksey parecer constrangido e cometer o pecado de tentar se afastar, mas Ivan o impediu, puxando-o para perto com força e encontrando seus lábios novamente, entrelaçando os dedos no cabelo dele, invadindo a boca de Aleksey com a língua e com aquela intensidade repentina, fazendo Aleksey gemer. Podia sentir as mãos largas de Aleksey contra as suas costas e o corpo dele contra o seu, tão diferente do de Morena, com as linhas retas e planos, os quadris estreitos e os ombros largos, a pele morna como um dia de primavera. Ivan desceu a mão para a bunda de Aleksey, provocando mais um gemido, e Aleksey entrelaçou os dedos no cabelo de Ivan e puxou-o de leve enquanto suas línguas e bocas entravam em sincronia.
O beijo de Aleksey era como a brisa do mar e o instante logo antes de um trovão alvejar a terra, tão diferente do de Morena, mas igualmente bom, e Ivan sentia que estava prestes a arder em chamas, desejando ter Aleksey por inteiro só com aquele beijo. Ele não precisava respirar, não precisava pensar, só precisava dos lábios de Aleksey contra os seus, e a única forma daquilo ficar melhor era se Morena estivesse ali, entre os dois.
Só que Aleksey aparentemente ainda precisava respirar, porque ele se afastou, ofegante, o rosto vermelho e os lábios ligeiramente inchados.
— Você não precisa provar nada, Ivan — disse ele, e Ivan franziu a testa, um pouco confuso. — Não preciso de nada disso pra saber o que você sente. Eu que sou lento e nunca entendi, mas é óbvio agora que sei onde procurar. Eu posso ser o que você quiser.
— Eu poderia ter deixado mais óbvio — disse Ivan, surpreso por aquele sentimento agonizante ainda estar ali, presente em seu peito, mesmo depois de beijar Aleksey.
Precisava beijá-lo mais uma vez, então com certeza tudo iria embora.
— Não. Não precisa de nada, Ivan. — Aleksey passou os dedos no cabelo de Ivan, fazendo-o fechar os olhos diante do toque. Ivan soltou um gemido quando sentiu os dedos de Aleksey contra o seu couro cabeludo. — Eu sempre quis fazer isso. Todas as vezes que você se deitava com a cabeça no colo de Morena, eu ficava imaginando como seria passar os dedos no seu cabelo até você cochilar.
— Você é bem-vindo quando quiser — declarou Ivan, sua voz saindo rouca. — Mas a última coisa que eu quero agora é cochilar.
Aleksey riu, mas depois olhou para Ivan com uma expressão esquisita e o segurou pelo pescoço de forma que ele não pudesse desviar o rosto. O coração de Ivan se acelerou, a expectativa de mais um beijo tomando-o, mas em vez disso, Aleksey disse:
— Você disse várias vezes que queria que eu deixasse você e Morena cuidarem de mim, e eu posso até aceitar, mas só se você prometer que vai deixar que eu e ela cuidemos de você. De verdade. Por inteiro.
Ivan nunca imaginou que uma ideia simples como aquela o deixaria tão desconcertado. O rosto ardeu de repente e ele tentou virar a cabeça, mas Aleksey já previra a movimentação.
— Você sempre está preocupado com todo mundo, mas e você, Ivan? E o que você sente? Isso é importante também — disse Aleksey, e Ivan amaldiçoou o fato de que ele se colocara naquela armadilha sem perceber. Em retrospecto, era óbvio que acabaria daquele jeito e poderia ter evitado. — E é importante você não ir embora todas as vezes que sentir algo que te deixa desconfortável.
— Não me leve a sério, eu só estava um pouco chateado — mentiu Ivan, mas Aleksey o impediu de continuar com um gesto.
— Dois dias atrás você estava implorando para eu te levar a sério. Você precisa se decidir. — Aleksey levantou as sobrancelhas e Ivan suspirou. — Você sabe que não é um peso para mim ouvir o que você tem a dizer. Nem para a sua esposa. Se você prometer que vai tentar, eu também prometo.
Ivan suspirou. Ele se esquecera de que quando se tratava de Aleksey, tinha também sua mania de querer conversar sobre sentimentos e aquela era uma promessa surpreendentemente difícil. Ivan detestava coisas com as quais não conseguia lidar, e vários dos seus sentimentos se enquadravam nessa categoria, então Ivan fazia com eles o mesmo que fazia com tudo aquilo que ele não compreendia: transformava-os em coisas que podia resolver, e se não conseguisse, deixava de lado e tentava esquecer de sua existência. Era fácil esquecer o que sentia, o que acontecera, esconder em um cantinho da mente e nunca mais mexer. Pelo menos era mais fácil do que enfrentar e tentar compreender qualquer coisa. Até a proposta de Aleksey era algo que ele queria se livrar o mais rápido possível, porque detestava a vergonha e a inquietação que pensar nela carregava implicitamente. Então respondeu, sem elaborar muito:
— Eu prometo.
— Excelente.
E Aleksey o beijou novamente, com ainda mais intensidade, empurrando-o contra a parede da cabana. Ivan sentiu as pedras irregulares contra suas costas e a coxa de Aleksey entre suas pernas, as mãos dele subindo pelo seu abdômen, fazendo toda sua pele arrepiar. Ivan fechou os olhos, a língua de Aleksey descendo pelo seu pescoço, encontrando o seu pomo de adão, desenhando os ossos da sua clavícula. Ivan havia se esquecido como precisava respirar, cada toque de Aleksey parecendo alimentar ainda mais o desejo que sentia, dando mais poder à parte dele que queria ver Aleksey de joelhos aos seus pés, implorando para poder prová-lo, implorando para Ivan devorá-lo, a parte que faria absolutamente qualquer coisa por ele se apenas Aleksey se entregasse.
Ivan voltou a si quando sentiu a mão de Aleksey no cós da sua calça e o segurou pelo braço, invertendo-os de posição com um só movimento, fazendo Aleksey soltar um ruído de surpresa tão adorável que Ivan não teve alternativa a não ser beijá-lo novamente, segurando os dois braços de Aleksey contra a parede. Os dois estavam ofegantes quando Ivan explicou:
— Não ainda. Não sem ela.
O rosto de Aleksey passou por diversas expressões em um instante, terminando com um meio sorriso que conseguia ser fofo e safado ao mesmo tempo, e Ivan achou que morreria ali mesmo.
— Seu desejo é uma ordem — respondeu Aleksey.
Ivan entrelaçou a mão de Aleksey com a dele, e Aleksey o beijou novamente, só mais uma vez, só mais um gostinho. Apesar de tudo, Ivan ainda nutria um certo medo de que durante a curta caminhada até a porta da cabana, Aleksey fosse mudar de ideia e sairia correndo. Que começasse a achar que aquilo que estavam fazendo era errado, que na verdade não queria nenhum deles daquela forma. Que se continuasse, estragaria tudo. E se isso acontecesse, Ivan queria aproveitar cada segundo ali para guardar na memória exatamente o seu gosto.
E então alguém o chamou. A voz que ele tanto amava, que o acordava todos os dias, e ele soltou Aleksey, virando-se e encontrando Morena, parada um pouco mais a frente, emoldurada por um pé de hibisco, com os olhos ligeiramente arregalados, parecendo um pouco confusa e receosa.
Só que não havia motivo para ela ficar confusa. Tudo ficaria bem agora. Aleksey estava ali, e era deles, e não iria para lugar nenhum porque ela, perfeita, incrível, maravilhosa, aparecera ali justamente quando Ivan precisara dela.
Ivan estendeu uma mão para Morena e, quando ela aceitou, sabia que tudo finalmente estava em seu devido lugar.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Isabelle Morais
Edição: Laura Pohl e Val Alves
Preparação: Laura Pohl
Revisão: Bárbara Morais e Val Alves
Diagramação: Val Alves
Título tipografado: Vitor Castrillo
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A próxima Noveletter, com a primeira parte do nono capítulo de Estudo sobre Amor e outros venenos letais, sairá no dia 23/02.