Capítulo 9 [Parte 1] - Estudo sobre Amor e outros venenos letais
Olá para você que nos acompanha!
NESSE MOMENTO SÓ EXISTE UMA PESSOA NO MUNDO QUE PODE EXPRESSAR TODOS OS "AAAAAAAHS" QUE GRITEI (E AINDA ESTOU GRITANDO) APÓS AQUELA SEGUNDA PARTE DO CAPÍTULO 8: ESSE HOMEM.
Confesso que ainda não sei se os berros foram de frustração com o Ivan que não sabe se comunicar e acredita em um GRANDE GESTO que provará seu amor de vez, ou de felicidade por Ivan e Aleksey terem dados uns pegas gostosos (e sem nenhum laszleamento no caminho!!!), ou de medo porque a Morena apareceu, ou de empolgação porque a Morena apareceu!!!!!!! Foram muitos sentimentos ao mesmo tempo, então talvez eu tenha berrado por todos esses motivos???
Você também berrou? Será que hoje a gente berra junto novamente? Para descobrir, leia a primeira parte do capítulo nove de…
Estudo sobre Amor e outros venenos letais!
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Aviso: Esta obra contém/menciona comportamentos tóxicos, quadro depressivo, familiares abusivos e tentativa de homicídio. Este capítulo contém cenas de teor sexual.
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Depois que Ivan partiu, Morena se acomodou na cama, encolhida com as pernas contra o peito, perguntando-se onde havia errado. Sempre ficava angustiada quando Ivan se fechava daquele jeito, visivelmente se afastando, fingindo um semblante de normalidade. Era como se ele afundasse qualquer sentimento desagradável que sentia assim que ousava aparecer, evitando entrar em contato com aquilo que o incomodava. Tão certo quanto o movimento das marés, todas as conversas mais espinhosas que os dois travavam terminavam da mesma forma: Ivan se afastava, saía para fumar um cigarro e voltava como se nada tivesse acontecido.
O assunto, morto e enterrado.
Na maioria das vezes, eram questões pequenas, resultados das paranoias que Morena não conseguia controlar. Se fosse um problema real, algo que incomodasse profundamente, gostava de pensar que Ivan conversaria com ela de verdade. Ele já o fizera antes em poucas ocasiões, e as coisas foram resolvidas até que facilmente. Então Morena engolia seus sentimentos e seguia em frente, convencendo-se de que estava tudo bem. No passado, ela desabafaria com Aleksey, o mero ato de falar em voz alta o que a atormentava, o suficiente para aliviar seu peito e as ponderações de Aleksey, o suficiente para acalmá-la.
Agora, não sabia exatamente o que fazer. Atravessar o curto caminho que separava a cabana dos dois não parecia certo, mesmo depois da conversa no baile. E o que diria, se fosse até lá? Bateria na porta, falaria que havia se desentendido com Ivan porque ela estava com medo de afastarem Aleksey novamente — ou, pior, de o prenderem contra sua vontade —, e o marido entendera que ela não se sentia amada. Que ela não acreditava no amor que ele expressava. Que achava que ele estava com ela por obrigação.
Morena afundou o rosto nos joelhos, sem saber como conseguira a façanha de fazê-lo entender o oposto do que ela falara. Ivan saíra da cabana achando que ela não confiava nele, que não acreditava em todas as vezes que dizia que a amava e todas as vezes que demonstrava seu amor. Que ela não conseguia ver o tamanho da sua afeição toda vez que ele a ajudava a se vestir ou que a consolava, todas as vezes que ele a beijava e insistia que precisava cuidar dela. Morena reconhecia aqueles atos, conseguia ver tudo isso, conseguia sentir muito bem. Era inegável o quanto ele a amava.
Só que talvez fosse esse o problema, afinal. Ivan fazia parecer que somente ela era o bastante e que não precisava de mais ninguém; nem de amigos, nem da família. O peso da responsabilidade de garantir que Ivan nunca se sentisse sozinho era como uma corda no pescoço de Morena, um passo em falso e acabaria enforcada. Não tinha certeza se conseguia ser a mulher que ele amava o tempo inteiro, correspondendo a todas as expectativas que ele criava quanto a quem ela era. Talvez nunca conseguisse suprir todas as necessidades do marido, por mais que se esforçasse, e, se fosse completamente sincera consigo mesma, não queria se propor a esse papel. Lembrava de forma palpável do alívio que sentira, tantos anos antes, quando Ivan finalmente lhe dissera que se sentia atraído por Aleksey, algo tão inexplicável que ela ficara meses com medo de que sentir aquele sentimento era prova de que ela não o amava de verdade, a culpa a consumindo mais uma vez por não retribuir em igual moeda.
No entanto, sabia que amava Ivan o suficiente para se preocupar com as consequências de guardar tanto para si, do peso de tudo que não falava, de tudo que ele talvez nem soubesse que sentia porque não se permitia pensar muito tempo nos assuntos ou depender de outras pessoas — mesmo a outra pessoa sendo sua esposa, com quem prometera compartilhar sua vida. Eles conversavam sobre quase tudo, mas Ivan parecia só ter uma gama de sentimentos pré-definidos que considerava aceitável. Nesse aspecto, ele era idêntico à mãe, que sempre parecia no controle, que nunca permitia que vissem nada que fosse remotamente parecido com tristeza ou desânimo. Durante os meses longe de Aleksey, Ivan parecera sentir raiva e frustração, mas em nenhum momento pareceu triste, e Morena sabia que era impossível que não estivesse compartilhando do mesmo desconsolo. Não havia como perder a única outra pessoa com a qual Ivan se permitia ser ele mesmo sem ficar triste. Ela havia chorado tantas vezes — às vezes por motivos bobos como reparar que estava tomando o chá favorito de Aleksey —, mas ele sempre agia como se estivesse tudo bem, o único indício de que havia algo acontecendo em seu coração eram os curtos momentos em que ele abaixava a guarda sem perceber, os milésimos de segundos antes de recuperar o controle das suas emoções.
Morena vivia naqueles vislumbres. Naqueles pequenos instantes onde Ivan deixava de ser um pilar para Morena se apoiar, e tornava-se apenas o menino pelo qual ela se fascinara na adolescência.
Morena se deitou e olhou para o teto, amaldiçoando o maldito destino de ser a primogênita. Se fosse a segunda filha, poderia ter ficado na Azote como professora, consolidando uma carreira ao lado de Ivan. Não teria sido seduzida pela ideia do poder que se titular como Alquimista Extraordinária antes do previsto lhe daria fora da academia, não teria que abrir mão de tantas coisas, não teria que forçar seu marido a fazer a mesma escolha. Fazia quase um ano que não tinha nem tempo de tocar a pesquisa que fizera como requisito para virar Extraordinária, do motor de locomotiva que exigia menos magia e, consequentemente, causava rebotes mais fracos, e havia algumas hipóteses que ela levantara que gostaria de investigar mais a fundo. Também começara a brincar com plantas, cruzando espécies diferentes, testando cores novas para flores, e tinha quase certeza que começava a ver um padrão. Porém, tudo aquilo ficava em segundo plano enquanto ela nadava para se manter flutuando na Corte, para se posicionar, para conseguir o respeito e o crédito político que a permitiriam fazer o que quisesse quando fosse mais velha.
Ela se levantou da cama, bebendo um copo de água na esperança do sentimento ruim que brotava na boca do estômago desaparecer e o nó na garganta sumir. Pegou o relógio de bolso que Ivan deixara em cima da cômoda e ponderou que ainda não deveria ir atrás do marido; ele precisava de mais espaço. No entanto, também não estava com paciência para se dedicar à tarefa banal de se arrumar para dormir. A sensação de que sua decisão seria a errada não importasse qual escolha fizesse a dominou, a crença de que tudo que fazia era equivocado a assolando como uma onda, trazendo com ela a certeza de que inevitavelmente afastaria Ivan do mesmo jeito que afastara Aleksey, do mesmo jeito que acabaria por afastar Tamara.
Lembrar da irmã fez Morena levar uma mão ao peito e olhar pela janela, a vista desfocada. A conversa que tiveram duas semanas antes, na véspera da ida de Tamara para a Azote, ainda estava fresca na mente de Morena. Se fechasse os olhos, conseguia ver a frustração no rosto da irmã mais nova, a decepção em seus olhos com a resposta que recebera depois de comunicar com todas as palavras que não se sentia confortável vivendo ali, que assim que se graduasse como Alquimista partiria de Argon para conhecer o mundo. Morena ainda não tivera nem a coragem de contar aquilo para Ivan, ciente de que ele não receberia bem a notícia. Ela não recebera bem a notícia.
Tamara era o único membro da sua família que restara por perto, depois do padrasto delas começar o processo de retornar a seu país natal. As duas compartilhavam memórias e histórias, e a certeza de que enquanto a outra estivesse por perto, nenhuma delas ficaria sozinha. Morena não conseguia entender no que havia fracassado para sua irmã querer ir embora e perder aquela certeza, e, na agonia de compreender a motivação de Tamara, havia matado qualquer chance da irmã mudar de ideia. Não sabia o que faria se acontecesse algo com ela e Morena estivesse do outro lado do mundo, sem contato, sem conseguir ajudá-la o mais rápido possível. Também não sabia o que fazer com a sensação de injustiça que era Tamara poder tomar essa decisão sem consequência nenhuma enquanto Morena estava acorrentada pela obrigação e pelo dever.
Quando parava para clarear os pensamentos, não conseguia entender de onde vinha a sensação de que tudo estava prestes a se despedaçar, de onde brotavam todos aqueles sentimentos ruins. Tudo na vida de Morena parecia perfeito. Ela deveria estar mais feliz do que nunca. Ela se graduara como Extraordinária em tempo recorde, feito antes alcançado apenas por duas pessoas, fora acolhida como membro-adjunto do Conselho de Alquimistas, apesar (ou por causa) do seu cargo como Princesa, tinha um marido que a amava incondicionalmente, que se contentava com um laboratório no porão de casa e que se entusiasmara como ela com a ideia de uma criança, e mal podia esperar para ensinar alquimia para seu herdeiro. Era ótimo que Tamara seguisse sua vida, conhecesse o mundo como a mãe delas fizera antes da irmã mais velha falecer e ela precisar substituí-la nas obrigações. Ivan poderia retomar o projeto dos espelhos que se comunicavam que começara alguns anos antes e se o concluísse, poderia permitir que elas se falassem com frequência, resolvendo o problema de não deixá-la desamparada. Para cada uma de suas inseguranças havia uma solução racional, que mostrava como Morena estava equivocada.
Só que nada do que sentia nos últimos tempos parecia racional. Até falar com Aleksey mais cedo, não percebera o quanto o medo era uma presença constante dentro de si, e aquela viagem havia intensificado os seus sentimentos e trazido à tona coisas que ela conseguia esconder tão bem no cotidiano. Os sentimentos correndo em suas veias eram como um veneno que manchava a forma com a qual ela via as coisas, distorcendo tudo para o pior cenário.
Fechou o relógio sem sequer compreender quanto tempo havia passado, perdida em pensamentos, e foi até o quarto de vestir, onde jogou um robe por cima da camisola. Ela iria atrás de Ivan. Se ficasse mais um minuto ali dentro, Morena provavelmente enlouqueceria de tanto pensar.
Quando saiu da cabana, fechou os olhos, sentindo a brisa suave acariciar a pele, o cheiro do mar deixando um gosto salgado na garganta que a fazia lembrar da magia de Aleksey. O gosto das lágrimas dele ainda estava fresco na língua, e ela umedeceu os lábios, sentindo seu peito se apertar. Ela desejava Aleksey com tanto afinco, mas tinha tanto medo de perdê-lo de vez se deixasse a sua paixão falar mais alto… mais um temor para sua crescente lista. Olhou para a cabana ao lado, que estava com as luzes apagadas, e seguiu o caminho de pedregulhos até lá. Algo lhe dizia que do jeito que Ivan partira, ele teria ido atrás de Aleksey mesmo de forma inconsciente, pelo menos para ter o conforto da presença dele ao seu lado.
Talvez encontrasse os dois fumando, como se tornara tão comum desde que Ivan iniciara Aleksey naquele hábito, a frequência com que encontrava os dois fumando lado a lado cada vez maior ao longo dos anos. Talvez encontrasse só Aleksey, sozinho no escuro depois da partida de Poroshenko, precisando de companhia e disposto a ficar com Morena ao seu lado, pelo menos um pouquinho. No fim, não encontrou nenhum dos dois, e, depois de dar a volta na cabana vizinha, retornou, procurando pelo marido na lateral e na parte de trás da cabana em que estava hospedada.
Ela suspirou. Ivan provavelmente descera para a praia, para dar uma caminhada, e ela não o encontraria assim tão fácil. E mesmo se ela o achasse, qual exatamente era seu plano? Ficar parada em silêncio ao lado dele, ignorando o que acontecera ao mesmo tempo em que tentava mostrar que ele entendera tudo errado? Era melhor se contentar em ficar sozinha até que ele voltasse e aproveitar aquele momento para tentar resolver seus sentimentos.
Aproveitou que já estava fora da cabana para fazer algo que queria fazer desde que chegaram ali — pegar algumas das flores que adornavam os arredores para enfeitar a cabana, talvez separar algumas para estudar e ver se havia diferenças que entre os hibiscos e oleandros que cresciam ali na beira da praia e aqueles que ela plantava em casa. Ela se aproximou de um dos arbustos, puxando um galho com várias flores brancas quando ouviu um barulho que ela reconheceria em qualquer lugar.
— Ivan? — chamou ela, franzindo a testa, soltando o galho e aproximando-se de onde o ouvira gemer e parou abruptamente.
De todos os cenários que imaginara para aquela noite, nunca imaginou que encontraria Ivan e Aleksey daquele jeito: se beijando, Ivan segurando Aleksey contra a parede, praticamente devorando-o com a intensidade que lhe era tão familiar. Aleksey parecia completamente entregue, arrebatado pela forma como o corpo de Ivan pressionava contra o seu, roçando os quadris nos dele, os dedos entrelaçados acima da cabeça, a respiração ofegante. Morena até poderia não ter muita experiência com outras pessoas, mas sempre soubera que não encontraria outro beijo como o de Ivan; nada seria tão intenso, nenhuma outra boca acenderia tanto seu desejo nem a faria querer tantas coisas ao mesmo tempo. Pela reação de Aleksey, ele estava sentindo pelo menos uma fração do que ela costumava experimentar, e uma parte de si sentiu-se feliz de compartilhar aquilo com alguém de quem ela gostava tanto.
Porém, a outra parte estava furiosa. Toda a discussão com Ivan começara porque ela queria fazer as coisas com cuidado, porque queria conversar com os dois e determinar limites e condições para que Aleksey se sentisse seguro. Eles precisavam considerar todas as possibilidades antes de seguirem adiante, para que o relacionamento deles não se transformasse em caos; fosse qual fosse esse arranjo que estabeleceriam. Queria garantir a Aleksey que ele poderia mudar de ideia quando quisesse, que não precisava se sentir obrigado a nada; queria entender a dinâmica na qual iriam tentar se encaixar, para se preparar caso tudo desse errado. Ela queria certa segurança quanto à decisão de começar um relacionamento sexual, de que seria consciente e não apenas movida pelo puro desejo, além de conversar sobre alguns limites básicos. Eles não podiam só presumir que sabiam o que Aleksey queria e precisava.
Morena entendia que os dois eram irresistíveis — e ela mesma tinha sido interrompida segundos antes de fazer exatamente o que Ivan estava fazendo agora. Seria hipócrita dizer que teria se segurado para não beijar Aleksey se as circunstâncias permitissem. No entanto, Ivan sabia pelo menos parte das suas preocupações, mas sequer a considerou por dois segundos porque tinha essa mania besta de achar que sabia exatamente como as outras pessoas se sentiam e de que ele jamais poderia estar errado quanto a isso.
— Ivan — chamou ela novamente, percebendo que ele não a ouvira da primeira vez, e os dois se separaram, ofegantes.
Ivan virou-se para ela, abrindo um sorriso radiante ao vê-la parada ali, os lábios ligeiramente inchados dos beijos, o queixo avermelhado com a fricção da barba de Aleksey. Aleksey ficou tão vermelho que ela conseguia identificar o rubor mesmo com a luz azulada da lua cheia, passando uma mão pelo cabelo desgrenhado, parecendo surpreso ao se deparar com ela ali, em seguida, franzindo o cenho. Morena tentou relaxar o rosto, ficando impassível antes de dizer:
— Eu não sabia que você estava ocupado. — Morena olhou de Ivan para Aleksey, e depois voltou seu olhar para o marido. — Eu posso esperar na cabana enquanto vocês terminam o que começaram.
— Morena… — Aleksey começou, a vergonha clara em sua voz, e Morena sentiu seu peito se apertar.
— Vem cá — Ivan interrompeu Aleksey com um tom que era meio ordem, meio súplica, estendendo uma mão na direção dela. — Nós estávamos esperando por você.
Morena umedeceu os lábios, segurando o comentário ácido que queria fazer, a briga dos dois ainda na ponta da língua. Não parecia nem que ele escutara o que ela falara antes dele sair, ou não estaria com o cheiro de Aleksey impregnado nele e a frente da calça apertada com sua ereção. Ela respirou fundo e olhou para Aleksey, que parecia estar prendendo a respiração em um misto igual de ansiedade e desejo. Era claro que ele queria aquilo tanto quanto Ivan, tanto quanto ela, mas havia um certo receio em sua postura, como um cachorro que sabe que está prestes a levar bronca. Morena até poderia estar com raiva de Ivan por não tê-la ouvido e não ter conseguido se segurar só mais um pouquinho e seguir uma conversa racional, mas nunca ficaria com raiva pelos dois terem tomado o primeiro passo. Não havia nada de errado no que fizeram; o problema era outro.
E era um problema que ela poderia deixar para o dia seguinte. Poderia guardar a raiva dentro de si durante aquela noite, assim como Ivan parecia ter engolido seja lá o que estivesse sentindo para poder engolir Aleksey da melhor forma. Poderiam ter todas as conversas do mundo quando fossem embora, mas naquele instante, ficou claro para Morena que um passo em falso e ela seria a responsável por fazer aquilo que tanto temia. Cruzou o olhar com Aleksey, que a olhava cheio de esperança, o cabelo desgrenhado pelos dedos de Ivan, os lábios entreabertos, como se estivesse prestes a implorar para ela ficar, e ela soube que nunca, nunca recusaria nada do que ele lhe pedisse.
Morena aceitou a mão do marido, e Ivan abriu um sorriso ainda maior, parecendo tão exultante que ela quase se sentiu culpada por ainda estar um pouco irritada. Quase.
Só que ela não podia perder a oportunidade de fazer com que as coisas dessem certo, pelo menos por enquanto, e todo medo e irritação de Morena foram deixados para trás com o toque quente de Ivan, e o calor do corpo de Aleksey tão próximo.
Ivan então a puxou para perto, passando um braço por sua cintura e envolvendo o seu rosto com a outra mão, salpicando beijos na ponta do nariz, nas bochechas, no queixo, cada toque tão cheio de carinho e afeição que Morena sentiu seu coração se apertar. Apesar de tudo, sabia que Ivan tinha sempre as melhores intenções e nunca fazia algo sem levá-la em consideração, mesmo que às vezes não a escutasse. Ela apoiou uma mão no tórax de Ivan, em cima da tatuagem que marcava sua pele, abrindo os lábios e encostando-os nos dele, invadindo-o com a língua em um beijo que o fez a apertar com mais força contra si, um gemido baixo se perdendo entre as respirações ofegantes. Ivan a explorou, cada movimento da língua como um raio, fazendo o desejo se acumular no ventre de Morena. Em troca, ela mordiscou e chupou os lábios do marido, sentindo um gosto salgado no fundo da boca que só poderia ser reminiscente de Aleksey, e gemeu, imaginando como seria sentir o gosto de outros fluídos de Aleksey na boca de Ivan.
Aleksey chegou mais perto, como se pudesse ler pensamentos, e encostou uma mão no quadril de Morena com leveza, em uma pergunta silenciosa. Mesmo por cima do robe e da chemise, o calor da mão dele contra si a fez se arrepiar por inteiro, e Morena se desvencilhou do beijo de Ivan, virando-se para olhar o outro homem. Aleksey umedeceu os lábios, baixando o olhar para a boca de Morena, encarando-a como alguém perdido no deserto que via água pela primeira vez em dias, como um homem faminto em frente a um banquete, como um homem que após anos isolado via outra pessoa pela primeira vez, e ela não hesitou um segundo sequer antes de jogar os braços ao redor do pescoço dele e beijá-lo.
Os lábios de Aleksey eram mais macios que os de Ivan, mais gentis, o gosto salgado de tempestade acentuado agora que suas línguas dançavam em sincronia. Ele deslizou a mão que repousava no quadril de Morena para a bunda, puxando-a contra seu corpo, a coxa grossa pedindo passagem entre as pernas de Morena, uma das mãos robustas subindo para envolver o seio dela por cima do tecido da chemise. Ivan se aproximou abraçando-a por trás, o peito firme contra as costas de Morena, os braços fortes passando ao redor dos outros dois, estendidos até que as mãos dele envolvessem a bunda de Aleksey, pressionando Morena até que não sobrasse espaço entre os três. Ela sentiu os lábios do marido contra o pescoço, causando arrepios, a excitação dele contra as nádegas, a respiração quente contra a pele, e Aleksey aproveitou o momento para intensificar o beijo, brincando com o mamilo enrijecido de Morena com a ponta dos dedos. Ela gemeu, a sensação dos corpos de ambos fazendo sua pele queimar, o lugar entre suas pernas latejando, implorando para ser tocado, e ela moveu os quadris contra a perna de Aleksey, procurando qualquer atrito que aliviasse um pouco daquela ardência.
Ivan e Aleksey gemeram quase ao mesmo tempo, o som a enlouquecendo de vez, a pura sensação de poder de saber que um movimento tão pequeno fazia com que ambos sentissem tanto prazer, deixando-a intoxicada, acentuando o próprio prazer. Mal podia esperar para ter os dois dentro de si, os três movendo em sincronia, cada centímetro de pele disponível colado no seu corpo.
Ivan a pressionou mais contra Aleksey, encurralando-o contra a parede mais uma vez, e Aleksey levantou uma perna de Morena para encaixá-la melhor em seus quadris, como se todos eles tivessem o mesmo pensamento, o mesmo desejo. Ela e Aleksey se separaram para respirar, ofegantes, mas Ivan não deu tempo para Aleksey se recuperar e o beijou, segurando-o pela nuca, Morena ainda entre os dois. Ela conseguia sentir a ereção de ambos contra seu corpo e fechou os olhos quando Ivan envolveu um dos seus seios por trás, movendo os quadris contra ela, fazendo-a se esfregar com mais veemência contra Aleksey.
Quando os dois se desvencilharam, as pupilas de Aleksey estavam dilatadas e pretas diante da excitação, o peito subindo e descendo, pele a pele contra Morena. Ela o beijou no queixo e Ivan aproveitou o momento para colocar uma mecha do cabelo de Aleksey para trás, roçando o nariz no dele e deslizando os lábios até o lóbulo da orelha dele.
— Olha como foi bom esperar — Ivan sussurrou para Aleksey, e Morena ficou tensa por um instante, amaldiçoando seu marido por gostar de falar durante o sexo e ter a oportunidade de arruinar tudo. Mesmo com toda a excitação que parecia percorrer seu corpo, mesmo estando exatamente onde queria estar há tanto tempo, ela sentiu uma pontada da sua irritação anterior retornando.
Completamente alheio à mudança repentina que as palavras provocaram, Ivan moveu os lábios para o lóbulo da orelha dela, virando seu rosto gentilmente para beijá-la, mas Morena o impediu de chegar à sua boca, afundando os dedos em seu queixo. Ela conseguiria recuperar aquela situação navegando as águas perigosas do desejo e anseio dos dois, ignorando os perigos no caminho. Os olhos de Ivan ficaram ainda mais escuros quando Morena o agarrou, e ele umedeceu os lábios, sua ereção parecendo ficar ainda mais rígida nas costas de Morena.
— Eu achei que você tinha saído para fumar, não para… — Ela meneou a cabeça, apontando para situação em que estavam.
— A culpa é minha — disse Aleksey rapidamente, parecendo ligeiramente aflito, e Morena levantou uma sobrancelha, cética.
— A culpa é toda minha — Ivan falou em um tom de falso arrependimento, e Morena conseguiu identificar o momento em que Aleksey entendeu para onde aquela conversa iria. — Eu sinto muito, Morena, você pode fazer o que quiser para me castigar por isso.
Aleksey deu um meio sorriso, subindo e descendo a mão pela coxa de Morena, olhando para Ivan por um instante antes de perguntar:
— Humm, e como seria esse castigo? Talvez eu também deva ser castigado.
— Shhiu, a culpa não é sua se meu marido é irresistível e se aproveita desse fato — disse ela, inclinando-se para beijar Aleksey suavemente nos lábios antes de segurar o pulso de Ivan e os tirar da posição confortável que estavam, virando-se para o marido e o afastando com um leve empurrão. Ainda segurando-o pelo queixo, ela o fez se afastar de Aleksey alguns passos. — E eu acho que hoje a melhor punição para ele é exatamente ficar de fora.
— Ah, não. — Ivan fez um biquinho de manha, mas a animação na voz era tanta que Morena não conseguiu conter uma gargalhada.
Ela olhou para Aleksey por cima do ombro, e ele ergueu as sobrancelhas.
— Eu acho que era para você pelo menos fingir que é algo ruim, Ivan — sugeriu Aleksey, aproximando-se devagar, com as mãos no bolso. — Algo como por favor, Morena, não me amarre e me deixe de lado enquanto você devora Aleksey vivo.
O tom de Aleksey era surpreendentemente convincente, como se ele já tivesse feito aquele tipo de coisa mil vezes antes, e Morena olhou para ele de soslaio, considerando o quanto seu melhor amigo era simplesmente genial. Ivan juntou as sobrancelhas, olhando para a esposa e dando um passo para trás ao ver sua expressão pensativa. Aleksey se aproximou e parou do lado dela, apoiando um dedão no cós da calça, levando o olhar de Ivan e Morena ao cinto que ele usava.
— Morena, você não vai me amarrar e me deixar só vendo você e Aleksey, vai? — Ivan falou com um ligeiro pânico na voz, como se só agora compreendesse que Morena estava falando sério.
Ela quase deu uma gargalhada. Morena sabia que Ivan não estava fingindo aquele espanto, mas era visivelmente óbvio o quanto aquela ideia o excitava. Talvez até aquele instante nunca tivesse parado para pensar naquele cenário específico: ele amarrado, ajoelhado aos pés da cama, enquanto ela e Aleksey se tocavam, incapaz de se aproximar a menos que eles permitissem, não podendo fazer nada além de olhar. Morena sentiu a umidade se acumular entre suas pernas, e Ivan a olhou com as pálpebras pesadas, como se a imagem também tivesse se desenrolado em sua mente. Era o ponto certo entre uma punição por seu comportamento e algo que o deixaria louco de prazer, uma tortura deliciosa e perfeita, do tipo que Ivan mais gostava. Além disso, havia também a palavra combinada que era a chave para interromper aquele cenário assim que ele quisesse.
— Isso, agora sim ficou perfeito, muito bem — Aleksey murmurou o elogio, levando uma mão ao rosto de Ivan e roçando o dedão nos lábios dele. — Eu achei que você gostava de nos ver dançando.
— Não acho que qualquer castigo seja justo nesse cenário — completou Morena, fazendo um pequeno gesto para Aleksey segurá-lo e deu um passo para trás, desamarrando o seu robe e puxando a fita de tecido que o prendia. — E acho que esse é adequado para compensar a sua avidez em começar sem mim. Você disse que eu precisava aprender a ser paciente, mas seu caso é ainda pior. Acho que essa lição de hoje vai ser de grande aprendizado.
— Morena… — suplicou Ivan e depois olhou para Aleksey, levantando a mão que ainda estava livre para tocar o rosto do homem próximo. Aleksey o impediu, mas não antes de parar um segundo para dar um beijinho na parte interna do pulso de Ivan, como se não conseguisse se conter. Ivan pareceu ponderar um instante o que faria a seguir, mas por fim declarou: — Eu prometo que vou me comportar. Eu vou fazer tudo que vocês pedirem.
— Bom garoto — disse Morena, beijando-o na bochecha antes de se posicionar atrás de Ivan, imitando o elogio que ela recebera centenas de vezes antes.
Ivan fechou os olhos, contendo um gemido, e não ofereceu resistência quando Aleksey colou o corpo contra o dele. Aleksey colocou os braços de Ivan par trás, e Morena o amarrou. Ela imitou o mesmo nó que Ivan sempre fazia, testando para ver se não prendera sua circulação. Ao final, se Ivan assim desejasse, ele se soltaria com facilidade, mas por precaução, tinha uma tesoura na mala que o libertaria rapidamente caso ele pedisse.
— Só me lembra uma coisa — disse ela depois que finalizou o nó, abraçando-o pelas costas, apoiando a cabeça por cima do ombro do marido. — Se você quiser parar, o que você diz?
— Tempestade — Ivan repetiu a palavra de segurança que já tinham usado diversas vezes.
Aleksey pareceu momentaneamente surpreendido por aquela palavra, sua especialidade de magia. Morena encontrou o olhar dele e o sustentou, como se o desafiasse a perguntar o significado daquilo.
Se ele perguntasse, ela poderia dizer para ele que era porque Aleksey sempre estava na mente dos dois. Que era uma lembrança não dita de tudo que sentiam por ele, uma certeza de que nunca o esqueceriam. Que mesmo naquele instante, ela estava tentando não pensar no que significava finalmente tê-lo em seus braços e em como ela jamais seria a mesma pessoa depois do que fariam naquela noite.
Mas ele não falou nada, então em vez disso, ela disse:
— Agora, vamos para a cama.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Isabelle Morais
Edição: Laura Pohl e Val Alves
Preparação: Laura Pohl
Revisão: Bárbara Morais e Val Alves
Diagramação: Val Alves
Título tipografado: Vitor Castrillo
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A próxima Noveletter, com a segunda parte do nono capítulo de Estudo sobre Amor e outros venenos letais, sairá no dia 02/03.