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Capítulo 3 de "As Incertezas da Fortuna"!

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Capítulo 3 de "As Incertezas da Fortuna"!

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Mar 11, 2021
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Capítulo 3 de "As Incertezas da Fortuna"!

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Olá, querido leitor!

No capítulo anterior, Gaspard finalmente deu mais do ar de sua graça… Opa, de Vossa Excelência, aparecendo bem mais do que no primeiro capítulo! Também deu para entender mais um pouquinho do relacionamento entre ele e a Mylène. Inclusive descobrimos como eles se conheceram! 

Foi um capítulo cheio de menções honrosas: o futuro consultório de Mylène, o senso de humor (quase inexistente) de Gaspard e um cartaz de procurado do Henri(!!!!)! 

Mas o que está me deixando mais empolgada é saber que eles enfim chegaram no festival da primavera. Gente, o que será que vai acontecer nesse festival, hein?! Estou ansiosa por esse terceiro capítulo e tenho certeza que você também!

Vamos logo para mais uma capítulo de...

As Incertezas da Fortuna!

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Perdeu algum capítulo? Não preocupe, você poder ler as noveletters anteriores aqui ou acompanhar as publicações no Tapas ou no Wattpad.

Aviso: Essa obra de ficção contém cenas incômodas envolvendo abuso psicológico e gaslighting parental. 


Andar pelas ruas lotadas, passar pelas barracas improvisadas cheias de atrações, sentir o aroma da comida romani no ar; tudo fez com que Mylène se emocionasse ao ponto de seus olhos se encherem de lágrimas. O festival da primavera ainda lhe causava a mesma sensação de quando fora pela primeira vez: alegria, empolgação, como se estivesse viva por dentro.

— Eu sabia que você amava o festival, mas não a ponto de derramar lágrimas — a voz de Gaspard interrompeu seu momento mágico.

Porém não a ponto de desanimá-la.

—  Não é possível que você não sinta nem um pouco da energia que está pairando no ar — ela o provocou, com um meio sorriso.

— E que energia seria essa?

— Não sei se conseguiria colocar em palavras, mas é como... fogo. Isso, fogo. — Então, Mylène parou de andar e colocou as mãos no meio da barriga. — É como se uma chama queimasse bem aqui e irradiasse para cada canto do meu corpo. Sim, é assim que me sinto.

Gaspard a encarou, sem palavras e cobriu a boca com uma das mãos. Mylène, que já estava acostumada com o gesto, sabia que era a maneira dele de mostrar que achava algo esquisito ou até engraçado.

— Eu estou falando sério, Gaspard!

— Não estou dizendo que não está! — Gaspard se defendeu, uma risada escondida em sua voz. — Apenas não esperava vê-la falar com tanta empolgação de algo que não seja anatomia ou doenças que só existem em Kremlim.

— Olha como se dão bem! — disse uma voz atrás deles.

Esse tipo de observação já estava virando costume e Mylène se sentiu satisfeita. Os dois ignoraram o comentário e Garpard lhe ofereceu o braço para prosseguirem, e ela o enlaçou com o seu. 

— Pelo menos já temos uma confirmação de que esse seu plano de vir aqui foi realmente uma boa ideia. Imagine o que os tabloides dirão amanhã? “Por amor, Gaspard Orléans acompanha Mylène Dupain no festival da primavera” — Mylène concluiu com uma entonação dramática, arrancando um leve sorriso do noivo.

— Espero sinceramente que seja algo do tipo ou até mais sensacionalista — declarou Gaspard com um tom amargo. — Desde que vi a primeira bandeira dos Romaines exposta logo que chegamos tive vontade de arrancá-la. É absurdo ver a capital de Chambeaux tomada por um povo estrangeiro.

De canto de olho, Mylène observou o semblante do noivo. As palavras dele eram as mesmas proferidas por qualquer nobre dos quatro cantos do país. Beaus eram extremamente patriotas e rígidos em seus costumes. “Graça, honra e família”, este era seu lema. Uma grande hipocrisia, na singela opinião da Dupain, que vivia dizendo que as três palavras reais seriam "Ostentação, fofoca e família de fachada". Os Romaines só tinham o mínimo de liberdade porque apesar de tudo, sabiam que eram em número muito menor do que o resto da população, que tinha tanto apreço por eles quanto Mylène.

Porém, o semblante de Gaspard dizia mais do que os valores da nobreza. Ela sentia que havia algo a mais. Uma dor não curada, uma raiva ainda mais irracional. Era visível quando ele defendia que os Romaines deveriam pagar impostos ou sair de Chambeaux de vez, algo que só faria sentido se os camps, locais de assentamento romani, ficassem na cidade e eles usufruíssem dos recursos locais. Gaspard normalmente era mais sensato do que sugerir um absurdo desses, já que os camps ficavam em lugares ermos, e os Romaines plantavam e produziam o próprio alimento... não havia motivo nenhum para cobrar imposto de pessoas assim.

“E também de pessoas pobres da cidade que mal tinham renda para se sustentar”, Mylène acreditava, mas nunca diria em voz alta.

— Algum dia vai me dizer o porquê de odiar tanto os Romaines? — ela perguntou, enquanto parava e admirava algumas joias casualmente. — Você fala com tanta amargura que me faz pensar que existe um motivo secreto.

— Ah, é? E o que você acha que é? — Gaspard a provocou, achando o comentário dela, no mínimo, curioso.

Mylène deu um sorriso e se dirigiu às flores que uma senhora vendia na tenda ao lado.

— Sei que como nobre Beau, você tem a tendência a simplesmente não gostar dos Romaines. Porém, você sabe que sou uma mulher observadora e minha intuição me diz que você tem um motivo mais pessoal para todo esse ódio... quem sabe uma lembrança ruim?

Ao terminar de falar, Mylène encarou Gaspard para ver sua reação. Seus olhos se arregalaram rapidamente, mas logo voltaram ao normal. Provavelmente havia o impressionado de novo. Ele cruzou as mãos atrás das costas e parou ao seu lado, observando a infinitude de flores da banca, um pouco pensativo.

— Diga-me: qual foi a flor que mais te encantou, Mylène?

— Essa azul que lembra a cor da minha saia. Por quê? — respondeu, sem entender a pergunta repentina.

Gaspard perguntou o preço da flor e pagou por ela, recebendo-a da senhora, que parecia satisfeita com as moedas adicionais que embolsara. Estendeu a flor para a noiva, que a aceitou, e os dois voltaram a caminhar pelas ruas.

— O presente repentino significa que meu palpite está certo? — Mylène questionou, olhando-o de soslaio.

— Interprete como quiser — Gaspard deu de ombros.

Interpretaria, então, que havia acertado. E ela tinha tempo, ficaria mais fácil de tirar a verdade dele quando os dois estivessem casados, vivendo sob o mesmo teto.

Sentiu um leve enjoo ao pensar nisso. Mas sua mãe estaria a salvo e ela poderia estudar o que ama. Valeria a pena.

Teria que valer.

Ainda assim, era difícil ignorar a voz dentro de si, sussurrando mais uma vez que Mylène nunca se sentiria satisfeita com a vida futura. O que era terrível porque Gaspard apareceu como uma ótima solução para os seus problemas, um salvador de rabo de cavalo e terno impecavelmente passado. Ela não esperava encontrar alguém que concordasse com suas condições, a tratasse com respeito e fosse uma bela visão para os olhos.

Ainda assim a voz sussurrava que não era o suficiente.

Ainda assim ela clamava por mais.

De repente, um acorde alto tomou os ouvidos de todos os que estavam no festival. A náusea que Mylène sentira há pouco logo se transformou em animação. Se havia música significava que haveria Romaines dançando. 

— Vamos! — ela exclamou e começou a andar mais rápido. Gaspard não contestou, apenas a acompanhou.

Seguindo a música, um grande palco de madeira se revelou na praça ao virarem a esquina mais próxima. Uma banda tocava um ritmo animado, mas o espetáculo ainda não havia começado, provavelmente na esperança que mais pessoas se aproximassem. 

E foi isso que Mylène e Gaspard fizeram com destreza, desviando das pessoas e encontrando buracos na plateia, a ponto de ficarem a apenas uma fileira do palco. Ela na frente, ele atrás.

— Pegamos um ótimo lugar!

— Ótimo para quem? — o noivo resmungou para si. 

— A música está alta, mas ainda posso te ouvir! —Mylène berrou, virando a cabeça para olhá-lo. — Vamos, Gaspard. Deixe-se levar pela energia!

A resposta dele foi uma lenta revirada de olho. Em seguida, ele volta a levar a mão à boca. Ele estava rindo da noiva mais uma vez.

Mylène não teve tempo de reagir porque quatro casais subiram no palco e começaram a dançar de uma maneira que a família tradicional Beau jamais aprovaria, com os corpos se mexendo praticamente colados um no outro e toques indo muito além dos ombros e das próprias mãos. A multidão foi à loucura e muitos começaram a balançar o corpo no ritmo da música. 

Gaspard manteve sua palavra e, embora não conseguisse esconder que não queria estar ali, não reclamou. Mylène a sua frente, batia palmas sem parar.

Quando a música terminou, uma mais lenta e sensual começou. Os casais deixaram o palco e uma bela dançarina surgiu através de uma fumaça misteriosa. Se esse tipo de magia não tivesse desaparecido há tempos no continente, não haveria dúvidas de que a performance era, na verdade, um feitiço. 

Seus braços e mãos subiam e desciam, enquanto as pernas a levavam para todos os cantos do palco. Seu olhar penetrante e sedutor parecia encarar cada um na multidão. Mylène, inclusive, chegou a pensar que muitas vezes ela estava a encarando diretamente. Era mágico, era hipnotizante.

Até Gaspard era incapaz de desviar a atenção.

Por fim, a fumaça misteriosa ressurgiu. A dançarina desapareceu. A música acabou. A praça inteira foi tomada por uma salva de palmas e gritos. 

— Isso foi incrível! Não ouse negar, Gaspard.

— Certo, não negarei — ele disse, conferindo rapidamente o relógio de bolso. — Bom, o espetáculo de dança terminou. Que tal andarmos mais um pouco antes de voltar para a carruagem?

Mylène assentiu e os dois se viraram para ir embora. Não contavam que a dançarina romani que antes estava no palco agora estivesse ali, tão próxima deles.

De perto ela era ainda mais bonita. Mylène ficou fascinada em como a sua pele marrom reluzia como ouro queimado mesmo que o sol já estivesse baixando e os postes ainda não estivessem acesos.

— Ora, ora! Se não é o belo casal que vi a pouco na minha apresentação. Que coincidência topar com os dois aqui — a dançarina disse com uma voz tão sedutora quanto os seus movimentos.

— Lá de cima você conseguiu ver a gente? — Mylène perguntou impressionada, pois ainda que estivessem praticamente em frente ao palco, ela não imaginava que a dançarina prestaria atenção nela e em Gaspard no meio de tantas pessoas.

— Sim! A aura que vocês dois emanam é simplesmente fascinante. 

— Sério? — Mylène questionou, com uma pequena ruga entre as sobrancelhas. — Por que diz isso? 

— Saberei com certeza ao ler a mão dos dois. Prometo não cobrar nada, apenas permitam — acrescentou com um grande sorriso convidativo no rosto.

Mylène quase gritou de empolgação. Nunca se esquecera do festival em que uma Romaine havia lido sua mão e dito que ela tinha a habilidade de curar pessoas, o que a levou a pesquisar mais sobre o assunto e se apaixonar por ele. Fora uma Romaine que lhe dera o seu sonho — talvez fosse outra que a iria ajudar com suas inseguranças?

— Vamos embora, Mylène. Leitura de mão é charlatanismo — Gaspard finalmente se pronunciou, pegou a mão da noiva e fez menção de continuar seu caminho.

— E se eu começar pelo senhor? — a dançarina sugeriu, colocando-se na frente de Gaspard. 

Porém, em vez de insistir que ele concedesse a permissão para ler sua mão, ela permaneceu parada, encarando-o. Gaspard lambeu os lábios e arrumou o terno, sem saber exatamente como agir, lançando um olhar para Mylène. Alguns segundos desconfortáveis se passaram até que a Romaine voltasse a falar.

— Por Kali, os olhos realmente são cinzentos iguais aos da Marianne. 

Gaspard ficou pálido. Seu semblante frio tornou-se assustador, com seus lábios estavam tão contraídos que pareciam inexistentes e suas sobrancelhas levemente arqueadas. Mylène nunca havia visto seu noivo assim. 

— Quem é Marianne? — ela finalmente perguntou, encostando uma mão no ombro de Gaspard com o intuito de acalmá-lo e encarando a Romaine.

A dançarina Romaine começou a falar, mas foi interrompida por um barulho estrondoso, que sacudiu os prédios ao redor e parecia ter acontecido dentro do peito de Mylène. Um zumbido o substituiu e ela olhou para a fumaça preta que começava a encher o céu, completamente atordoada, o coração prestes a sair pela boca.

Maldição…

A última coisa que eles precisavam era de uma explosão no meio do festival da primavera.

Continua...

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CRÉDITOS
Autora: Marina Oliveira
Edição e Preparação: Bárbara Morais e Val Alves
Revisão: Mareska Cruz
Diagramação: Val Alves
Ilustração: Fernanda Nia


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A próxima Noveletter, com o quarto capítulo de As Incertezas da Fortuna, sairá no dia 18/03!

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