Olá para você que nos acompanha!
Nem acredito que chegamos na metade dessa história!
Acho incrível como essas cinco semanas passaram rápido e devagar ao mesmo tempo (assim, para quem optou pela tortura de ler cada capítulo semanalmente, hehehe) (se quiser sair dessa tortura, você pode virar um Carteiro Supremo no Catarse por R$ 12,00 e obter o e-book com o compilado da história!), daqui a pouco chegaremos no fim de Palacete de Memórias… E meu coração dói só de pensar que essa dupla só volta no ano que vem, e terei que viver até 2024 só relendo Pó de Fada e Palacete de Memórias, principalmente PDM porque ▆▆▆▆▆▆…
Ah, o que é a tarja preta?
Oras, como se eu fosse estragar sua experiência! Tem que continuar lendo para descobrir, afinal o que é mais um mistério para você, queride leitore, solucionar com Agatha e Louise (e eu agora, MUAHUAHAUHA), não é mesmo? E já que estamos no tópico mistério, tenho muitas perguntas sobre a Parte III: que feira é essa que o senhor Lasanha mencionou? Por que Margot guarda todos aqueles frascos de perfume? Quem é C? Por que Louise não deu logo um beijinho na Gomes? (Agatha, é verdade que um tapinha não dói?). Tantas perguntas! Será que teremos a resposta hoje?
Para descobrir, leia a Parte IV de…
As Formidáveis Gomes & Doyle em Palacete de Memórias!
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Perdeu algum capítulo? Não se preocupe, você pode ler as noveletters anteriores aqui ou acompanhar as publicações no Tapas ou no Wattpad.
Avisos: esta obra menciona relacionamentos e comportamentos tóxicos, machismo, gaslighting, homicídio, sangue, objetos afiados, agressões física e verbal, e violência doméstica. Alguns capítulos contêm cenas de susto e fazem alusão a conteúdo sexual.
Enquanto repassávamos o raciocínio de Gomes, visitamos a biblioteca onde conseguimos nada além de espirros ocasionais, que tentei manter o mais silenciosos possível, com muito esforço. Se eu desse vazão a eles, provavelmente seria mais um barulho inconveniente que despertaria os fantasmas outra vez.
— Aqui não é um local que as fadas destacaram — reclamei com a voz anasalada.
Gomes estava entretida com um calhamaço marrom-escuro, floreando as páginas amareladas com interesse genuíno. Sua silhueta, iluminada apenas pela luz da luneta-lamparina, quase tão espectral quanto as dos fantasmas do palacete, mas sem aquela terrível sensação de medo. Era como ver uma sombra de Gomes na adolescência, na biblioteca da escola, inclinada sobre um livro certamente menos interessante do que ela. Gomes era a beleza nesta saleta com manuscritos empoeirados e de tapeçaria tão escura que nem mesmo a pouca iluminação impedia que nossos vultos se projetassem na madeira de lei, duas formas distorcidas e humanóides. Ignorando o embrulho no estômago e evitando encarar nossas sombras, aproximei-me dela, tocando seu cotovelo com delicadeza.
Conhecendo-me, Gomes já tinha consigo um lenço preparado, tirando-o do colete sem tirar os olhos do livro, apenas movendo a luneta-lamparina antes de entregar-me o tecido. Assoei o nariz com discrição, meu olhar agradecido, visto de relance, arrancando-lhe um pequeno sorriso torto. Nem mesmo as nossas sombras me apavoravam mais, enquanto admirava sua silhueta e inclinava-me sobre seu ombro para observar o que tanto a intrigava: rabiscos de desenhos do que seriam os grandes zepelins.
— Se eu tivesse construído um desse antes de qualquer um… — sussurrou com uma pontada amarga no orgulho ferido. Inconscientemente, deslizei minha mão livre por seu ombro esquerdo, massageando-o com suavidade. Aquele era sempre um assunto delicado e um tanto irracional de Gomes. Os ciúmes que ela sentia em relação às suas ideias eram um tópico perigoso. — Estava tão perto!
— Eu sei — sussurrei e, com sutileza, fechei o livro em suas mãos para tirá-la daquele recinto. Queria dizer-lhe o de sempre: que tudo o que ela fazia era o suficiente; que todas as engenhocas que ela criava só precisavam de patrocinadores para serem vendidas, mas, para Gomes, o conhecimento não deveria ser capitalizado, um sentimento tão nobre quanto frustrante, na realidade em que vivíamos o conhecimento não-capitalizado tornava-se obsoleto.
Em silêncio, seguimos brevemente para uma das salas de visitas, pintada em tons pastéis e amarelados. O lustre em forma de gotas, sem motivo aparente, ainda estava ligado, iluminando a saleta a ponto de Gomes dispensar a luneta-lamparina. As paredes eram sustentadas por vigas em formato dórico em um tom claro, acompanhadas por mosaicos em losangos, alternando entre o bege pastel e o azul claro. Havia somente uma mesa de chá com algumas cadeiras, a tapeçaria também em mosaico, e cores amarelas pálidas que tornavam o ambiente menor do que realmente era. Era um local riscado no mapa da planta, mas fui atraída por ele assim que notei a coleção de porcelana inglesa, então investigá-lo foi inevitável, ainda que tenha sido em vão. Naquele ambiente apertado, deduzimos apenas uma enfadonha sensação de que aquele lugar tinha servido para inúmeras conversas de negócios e “trocas de informações sobre vidas alheias”, nas palavras de Gomes, ou seja, nada mais, nada menos que fofocas.
Depois, passamos pela sala de coleções de arte do Dr. Bolognesa, repleta de artefatos marajoaras, como vasos pintados em triângulos maiores e menores e cordões em formato de muiraquitã, bijuterias de aço com insígnias do brasão da família real britânica, anéis dourados brilhantes com o Olho de Hórus e outros objetos que o falecido provavelmente tinha adquirido em suas viagens. Um relógio de bolso, sobre um pedestal, como um prêmio, cintilou com a luz da luneta-lamparina, e Gomes aproximou-se dele. Com a ponta dos dedos, traçou as linhas das flores ornamentais entalhadas no material para, em seguida, apertar o botão que abria o interior com ponteiros e girá-lo na mão.
Abaixo, um envelope amarelado e intocado, que Gomes logo pegou e abriu, descartando o selo intacto.
— Ele sequer leu essa carta? — indaguei, curiosa, espiando pelo ombro de Gomes.
Em letras elegantes, havia uma mensagem da remetente:
Londres, 13 de outubro de 1887
Meu amado Frederico,
Almejo que este utensílio lhe traga memórias sobre mim nas horas mais solitárias, quando o luar se tornar sua única companhia, e os vinhos secos forem transformados em meras garrafas vazias ao redor do dossel. Anseio pelos nossos próximos encontros com uma saudade que somente sua presença pode aliviar.
Sempre sua,
L. M.
Gomes entregou-me a carta e focou no envelope, investigando informações relevantes que ele pudesse conter.
— Nunca compreenderei a necessidade de iniciais nas assinaturas, quando está explícito quem é o remetente e o destinatário — resmungou para si, e antes que eu pudesse fazer qualquer comentário, continuou: — Frederico Bolognesa combinava tanto com Lady Morgana no quesito de adorar utensílios raros, como os colonizadores, que até trocavam gentilezas. E, aparentemente, amilases salivares também.
Mostrando-me o envelope, indicou-me as grafias “De Lady Morgana à Frederico Bolognesa, como gratidão pela companhia” em uma caligrafia elegante e antiga, escrita em prata, e falou:
— Aposto que isto é sangue de unicórnio.
Fiz uma careta de desgosto.
— A família de Lady Morgana usava o sangue prateado deles para fabricação de tintas duradouras — explicou com uma calmaria indiferente. — Falando nela, viu que ela está leiloando alguns artefatos?
— Sim, eu e Samantha estávamos curiosas sobre os valores…
— Certamente absurdos de caros. — Gomes passou o dedo pelo que parecia ser uma flauta feita de bambu e limpou a poeira na calça. — Fiquei mais curiosa com seu repentino desapego dessas raridades.
— Vai ver está em crise.
Gomes riu.
— Lady Morgana? Em crise? Foi uma piada, minha cara Louise? Não… Infelizmente, receio que ela esteja apenas se desfazendo do que não lhe é proveitoso neste momento para adquirir algo maior. Se compreendi corretamente, ela fala de um bem adquirido em algumas de suas viagens antes de 1888.
Parei de caminhar e encarei Gomes.
— 1888? O mesmo ano em que Dr. Bolognesa e Margot Maxime fizeram uma viagem, quando noivos?
— Exatamente, minha cara. — Gomes tinha um sorriso orgulhoso, o que me fez perceber que eu estava raciocinando do jeito que ela queria. — O palacete já estava sendo construído desde 1887. Era a quinta viagem que o Bolognesa fazia para cortejar Margot Maxime, supostamente. Todos sabem dessa história, embora os rumores à época fossem justamente sobre a quem Bolognesa estava dedicando este palacete.
Era de conhecimento geral da geração de maman que o Dr. Bolognesa já estava demonstrando seu afeto a uma musa inspiradora desconhecida, causando inveja a todas as jovens daquele tempo e aumentando as expectativas sobre quem era a noiva.
— Havia rumores de que a própria Lady Morgana era a musa do Dr. Bolognesa — afirmei, lembrando-me especialmente de um chá da tarde, conduzido por minha mãe e minha tia, repleto de fofocas e com a participação obrigatória de mulheres mais novas. — Eles eram próximos até demais, segundo minha mãe, e isso explicaria o presente de coleção rara e a carta.
Gomes tinha aquele olhar que dizia tudo o que eu precisava saber: sua suspeita excessiva estava começando a dar sinais de lucidez. Sim, porque, de alguma forma, aquela investigação sobre um casal morto também era sobre Lady Morgana, no final das contas.
— Reparou que a arquitetura interior é muito contrastante? — começou Gomes, indicando as tapeçarias escuras da sala de coleção, e depois apontou para o corredor que levava à sala de chá. — O interior deste lugar é tão sombrio quanto acolhedor, duas estéticas que não se harmonizam. Bolognesa era conhecido por ostentar grandes prédios por fora, mas era um preguiçoso por dentro. Quer saber minha teoria?
— Hm? — Cruzei os braços e ergui as sobrancelhas, ansiosa para o modo Gomes de empolgação.
— Lady Morgana e Frederico Bolognesa tinham um caso, mas ele se apaixonou por Margot. Este palacete foi construído não para uma, mas para duas musas inspiradoras com personalidades e gostos muito distintos. Para mim, é o que justificaria a falta de um aspecto mais gótico aos interiores mobiliados por último. — Ela ergueu um dedo em riste, reforçando seu raciocínio.
Não havia muito o que contestar na maneira como chegou àquelas deduções, considerando, de fato, as disposições dos móveis e a escolha das paletas de cores contrastantes.
— Talvez Lady Morgana esteja influenciando esse alvoroço. — Gomes pôs a mão no queixo, pensativa. — É coincidência demais que ela tenha elaborado um leilão particular tão próximo do falecimento do casal.
— Está presumindo que Lady Morgana assassinou o casal?
— Ora, claro que não. — Gomes indignou-se. — Já sabemos, mais ou menos, como decorreu a morte. O que me deixa inquieta, cara Louise, é a pressa para retirar esses fantasmas. Ah, mas como seria interessante obter um item do leilão de Lady Morgana! Quanto eu poderia descobrir de sua dona? — Seus olhos brilhavam em expectativa sobre desmascarar a rival unilateralmente imposta.
Nada vinha à minha cabeça para explicar tamanha empolgação.
— Esse interesse todo por saber de Lady Morgana… — comecei e Gomes encarou-me, curiosa. Evitei fazer uma careta. — É mesmo um interesse profissional?
— Ora, minha cara… — Gomes parecia prestes a rir. — Acredita mesmo que sou o tipo de mulher que se joga a qualquer rapariga à minha frente?
Diante do meu silêncio afirmativo, Gomes empertigou-se.
— Mas é claro que não, Louise! Meu interesse é puramente profissional. Obter um objeto do acervo particular de Lady Morgana poderá abrir um leque de possibilidades para análise como seus gostos pessoais, suas pretensões e, talvez, pistas de seus próximos passos. — Gomes estava com a expressão séria de investigadora, o que me trouxe um repentino alívio por um incômodo sem cabimento. Nos últimos tempos, ver ou ouvir falar de Gomes reavivou alguns sentimentos possessivos inconvenientes. Suspirei.
— Posso pedir a Norberto que adquira uma delas, a mais barata, se for o caso — sugeri, pronta para ajudá-la no que fosse possível para conseguir seu intento.
— Não, não quero nenhum auxílio do seu noivo, grata. — Gomes andou pelos corredores a passos duros.
— Não precisa ficar chateada. Foi só… uma ideia? — Para uma pessoa tão pequena, Gomes conseguia andar incrivelmente rápido, e, ao tentar acompanhá-la, quase derrubei um vaso florido no meio do corredor. — Gomes! Espere!
Ela parou em frente a um quarto que cheirava a talco para chulé de sapatos velhos e encarou-o com o cenho franzido por alguns segundos antes de tirar o mapa do colete e observá-lo atentamente. Seu olhar saiu da planta do palacete ao quarto diversas vezes, e esticou o mapa para mim. Calculei onde estávamos: segundo andar, corredor de salões de biblioteca, chá e antiquário, menos aquele recinto.
— As fadas deixaram escapar um lugar — disse surpresa.
Gomes guardou a planta do palacete no interior do colete.
— Ou foram ludibriadas pelas memórias dos donos. Fantasmas e suas formas de manifestação são muito confusas. Talvez esse quarto nem exista de fato… — Gomes empurrou a porta com leveza, segurando-a para que a madeira não arrastasse no chão e provocasse um barulho inconveniente. Quando entramos, logo percebi se tratar do quarto abandonado de um bebê. No meio do recinto, havia um berço feito em uma madeira envernizada, com algumas roldanas nas laterais que permitiam o vaivém da parte côncava do centro, e, embora nenhuma janela estivesse aberta, o berço sacudia como um pêndulo. Aproximei-me dele, meus dedos passando pela madeira polida, cada extensão arrepiando os pelos dos meus braços, uma sensação de angústia, raiva e desgosto queimando em meu corpo como uma brasa. Afastei-me, inspirando com dificuldade, e o berço parou de balançar instantaneamente.
— Ele estava muito chateado — sussurrei, um filete de suor frio escorrendo de minha têmpora. — Este foi um local que visitou com frequência antes de sua morte, e parecia cada vez mais aborrecido com o que nunca pôde ter.
As penteadeiras estavam vazias, exceto pela mais alta, quase chegando ao canto do quarto, onde havia um boneco de madeira com tintura descascada.
— Aqui, o quarto do bebê que nunca nasceu.
Quando Gomes proferiu aquela frase, com uma naturalidade displicente, como se nunca a ideia de formar uma família nunca tivesse passado pela sua cabeça, algo em mim caiu como se eu tivesse pulado de um zepelim, e aquilo não deveria ser novidade para mim. Mas eu já não sabia discernir se o que eu estava sentindo era fruto dos ecos de sentimentos do falecido Dr. Bolognesa ou se era Louise em suas incertezas sobre a maternidade.
— Não me parece ter sido o último cômodo que visitou antes de falecer — disse Gomes, atenta aos detalhes do quarto. — Não há nenhum sinal de briga, os móveis estão intactos. Segundo informações da vizinhança, foram ouvidos exatamente os mesmos gritos sempre na mesma hora por dias, seguidos de barulhos de móveis arrastando e objetos caindo, um verdadeiro barraco! Este aposento parece mais calmo que cidadão depois que toma açaí e vai se deitar na rede.
— O problema é que fantasmas podem ocultar provas quando os cenários se misturam com lembranças, Gomes — sussurrei enquanto me reestabelecia. — Lembra-se de Sarreguemines? Os aposentos por dentro eram diferentes do que víamos nas memórias dos fantasmas que residiam ali.
De fato, em Sarreguemines, as memórias fantasmagóricas eram distorcidas e vários aposentos no interior da Mansão investigada foram realocados. Os sentimentos deixados pelas memórias eram tão fortes que mudavam até nossa percepção de tempo e espaço. Inspirei fundo, me questionando se aquela investigação seria tão difícil quanto.
— Mas, de qualquer forma — disse, para seguirmos em frente —, há outros cômodos a explorar. Em Sarreguemines, ao menos, eu sentia quando havia algo de errado nos aposentos, o que nos deixava margem para explorá-los. Aqui, só sinto… tristeza e vazio, mas não raiva ou ódio. Concordo que não deve ter sido aqui o incidente. Vamos seguir! Onde está o mapa?
Gomes pareceu surpresa com minha iniciativa, e depois deu de ombros, mas um sorriso formou-se em seus lábios ao passar por mim, e, ao alcançar as escadas, gesticulou para que eu descesse primeiro.
— Sigo vossas ordens, Alteza! — Brincou, e eu revirei os olhos enquanto começava a descer, esticando o mapa para acompanhar nosso próximo passo.
De repente, a madeira de um dos degraus em que Gomes pisava estalou alto, e um calafrio percorreu por toda a minha espinha. Congelei de imediato, em meio aos passos, quando as luzes nos lustres se acenderam, deixando o ambiente escuro e neblinado tão aceso quanto à luz do dia, as paredes em tons pastéis e os mosaicos azuis e verdes ganhando vida como em um corredor de baile.
Continua…
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CRÉDITOS
Autora: Giu Yukari Murakami
Edição: Bárbara Morais e Val Alves
Preparação: Val Alves
Revisão: Gabriel Yared
Diagramação: Val Alves
Título tipografado: Fernanda Nia
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A próxima Noveletter, com a Parte V de As Formidáveis Gomes & Doyle em Palacete de Memórias, sairá no dia 17/08.
Cliffhanger criminoso esse kkkk